3 de maio de 2014

Os conflitos na Ucrânia e o papel da classe trabalhadora


Manifestantes bloquearam o principal prédio do governo para derrubar Yanucovich com uma greve geral em dezembro de 2013
A partir do dia 1º de março de 2014, o cenário político mundial entrou em um novo momento. Neste dia, a Rússia enviou tropas à Criméia, região da Ucrânia. Este país do leste europeu viveu uma revolução histórica que derrubou um governo. A burguesia mundial tenta sufocar o processo revolucionário através de uma intervenção armada. Hoje, dia 19 de abril, o presidente da Polônia declarou que os EUA enviarão forças ao seu país para reforçar a presença militar perto da Ucrânia. Os EUA ao oeste e a Rússia não são inimigos. Ambos têm um objetivo comum: sufocar um processo revolucionário vivo.

Por que a revolução “esfriou”?   
            O esfriamento da revolução é evidente. A praça Maidán, o centro da revolução, voltou ao normal. Não que o país tenha voltado à normalidade de antes da revolução. Porém, as massas pararam pra respirar depois de vários dias de confronto e dezenas de mortos. Enfim, o processo revolucionário reduziu a marcha.

Podemos dizer que a classe operária não foi a vanguarda da revolução e isto foi uma clara limitação de tudo. O leste do país têm mais indústria e mais operários. Porém, o oeste agrário foi onde se deu o centro da revolução. Lá, a pequena burguesia foi o setor social que entrou em cena junto às massas populares urbanas. Os partidos da pequena burguesia assumiram o governo com uma velha burguesia de oposição ao presidente derrubado. A ausência ou falta de protagonismo dos operários ucranianos foi ruim para o processo e permitiu uma tímida recuperação do regime burguês.

Para além disso, ou melhor, junto e intimamente ligada ao “apagão dos operários”, há um fator poderoso que fez a revolução “esfriar”: a falta de um partido revolucionário e socialista, ou o que chamamos de crise de direção revolucionária.

A crise de direção é forte no leste - Se por um lado, o caráter popular e sem uma participação consciente da vanguarda do proletariado limitou o processo, por outro, tudo isto foi uma consequência da crise de direção revolucionária. O Partido Comunista da Ucrânia –PCU- há muito tempo tem relações íntimas com a burguesia russa-ucraniana e seu Partido das Regiões (PR). O leste tem mais indústria e ficou pra trás durante o processo inicial. Agora, o leste da Ucrânia entra em cena com o mesmo caráter popular, sem greves radicais, mas com um levante menos combativo e mais indeciso. O que une aos lutadores é a rejeição ao “novo” governo (liderado pelo partido de uma antiga política- Tymoshenko). Ao que parece, deixam-se levar muito mais pela burguesia, do que seus irmãos ocidentais. A péssima educação do PCU sobre os operários é um fato decisivo.

             Não podemos afirmar se economicamente a parte oriental sofreu mais com a crise, ou se foi o PC que soube aliviar mais o desgaste do governo no leste. Podem ser que tenham sido as duas coisas. Com certeza se houve um partido revolucionário com uma boa influência sobre os operários e as massas empobrecidas, o processo não esfriaria.

A queda do muro de Berlim e o socialismo - O classismo realmente sofreu duros golpes após a queda do muro de Berlim, conforme vemos na Ucrânia. As massas trabalhadoras não se enxergam como classe e ainda acreditam na burguesia. Por isto, elas entram nos processos revolucionários como coadjuvantes de outros setores sociais. Este é o caráter da maioria das revoltas e revoluções do mundo: revoluções populares das massas urbanas sem o horizonte socialista. Ao mesmo tempo, o estalinismo fracassou. 

Foi atropelado historicamente, e as massas vieram “rezar” no seu túmulo. O PC da Ucrânia não conseguiu conter a indignação dos trabalhadores e assim abriu espaço para crescimento da ultra-direita. A solução é fazer uma revolução que não “esfrie”, mas que no calor do processo de lutas, entre no caminho do socialismo e não deixe a burguesia governar. Essa é a saída para que Ucrânia, Rússia e o mundo evitem o fim da humanidade ou a miséria social constante.

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