O programa para a
cultura em nosso estado parte da perspectiva de vê-la como forma de existir.
Cultura vem do latim, (colo, cure) e esteve durante algum tempo associada a
ação de lavrar a terra, fazer brotar o fruto. Refere-se a ação humana de
cultivar algo, fazer brotar, criar, produzir. Logo, a cultura está diretamente
associada ao trabalho. Povos de diferentes lugares criaram formas diversas de
se expressar e de mostrar sua história, seus costumes, seu canto, sua dança. A
cultura é criada, inventada, reinventada e rei-significada na história através
dos tempos e por cada povo num lugar determinado, e como tal, configura-se como
a resistência de um determinado povo, sobretudo a cultura popular.
A cultura popular é
a cultura da resistência. A marujada em Bragança é cultura de resistência. O
artesanato de miriti é cultura de resistência. O carimbó de Marapanim, o lundu
é cultura de resistência. O boi-bumbá, os pássaros é cultura de resistência. A
cerâmica tapajônica, a arte marajoara e a dança do vaqueiro da ilha do Marajó
são cultura de resistência. O sairé em Santarém é cultura de resistência. As
manifestações linguísticas dos Cametaenses, a ladainha e samba de cacete fazem
parte da cultura de resistência de Cametá. Assim como muitas outras nos
diversos municípios de nosso estado.
A cultura de
resistência acontece nas reinvenções e reinterpretações que brotam das
periferias, e buscam sua expressão nos espaços públicos, como a batucada, o
hip-hop, e tantos outros grupos que se organizam na capital do estado para
dizer que apesar de marginalizados resistem fazendo cultura para o povo. Em sua
maioria como diz Hertz Dias, do Quilombo Urbano no Maranhão: “As mãos que
produzem cultura são mãos de gente pobre. Mão de gente negra, indígena, mão de
gente trabalhadora. Muitos desses artistas morrem à mingua, porque se apropriam
da cultura do povo, mas desprezam o povo que produz cultura”.
O problema está na
privatização da cultura e no fato de o mesmo ter se tornado em mais um instrumento de dominação. Os
Governos e a burguesia a enxergaram como um grande negócio, dominando-a econômica e ideologicamente, a serviço de
seus valores. A arte e a cultura no capitalismo obedecem às leis de mercado e
às necessidades da burguesia de manter a dominação sobre a classe trabalhadora.
Todos os problemas relativos à cultura hoje têm a ver com essa relação
mercantil, que faz da arte uma mercadoria como qualquer outra. Portanto, um
programa socialista tem de partir da necessidade urgente de emancipar a
cultura, de desatá-la das mãos do capitalismo, única forma de atingir uma arte
e uma cultura verdadeiramente livres.
As leis de renúncia
fiscal, como a Rouanet nacionalmente e a Lei Semear no Estado, são dispositivos
legais das empresas para controlar a cultura usando dinheiro público. As
empresas deixam de pagar impostos e usam o dinheiro na divulgação de sua marca.
Em outras palavras, o setor privado define os projetos. Essa política incentiva a concentração, ao
invés da democratização. O resultado é um peso enorme da TV e a separação cada
vez mais profunda entre uma arte de elite, feita para uma minoria que pode
pagar e tem formação suficiente para usufruí-la, e a imensa maioria da
população, que só tem acesso a um tipo de “cultura” feita em escala industrial,
como as novelas, alguns filmes de Hollywood e reality shows.
A burguesia, que hoje
tem em mãos o controle da cultura, da arte e da ciência, deve ser expropriada.
E a jornada de trabalho deve ser reduzida, para que toda a classe trabalhadora
possa usufruir dos bens culturais e desenvolver seus talentos.
Propomos:
1. Por
uma cultura 100% estatal. O financiamento da arte precisa ser feito com
dinheiro público, oferecida gratuitamente e acessível as populações do estado;
2. Resgatar a cultura como direito universal.
Deve ser tratada como serviço público, como saúde e educação, e financiada pelo
Estado de forma ampla, com orçamento próprio e compatível. Com isso, as “leis
de incentivo” baseadas na renúncia fiscal, poderão ser abolidas;
3. Orçamento de 2% para a cultura.
4.
Democratização dos investimentos para a cultura de forma igualitária para cada
segmento como artesanato, música, dança, teatro, cinema, etc.
5. O
orçamento do estado para a cultura deve ser discutido e definido em comum
acordo com os artistas e a população de modo a contemplar os diversos segmentos
culturais, de forma equânime e democrática;
6.
Utilização dos logradouros públicos, como ruas, praças e a restauração de
prédios históricos do patrimônio histórico para serem utilizados como espaços
para os grupos de cultura popular com infraestrutura de som e iluminação para a
realização de apresentações.
7. Liberação das ruas e praças públicas para serem amplamente
utilizadas pelo teatro de rua, sem qualquer tipo de repressão ou violência;
8. Que todas as escolas públicas funcionem como
centros de cultura completos, geridos pelos trabalhadores.
9. Os primeiros passos para a prática artística
devem ser promovidos pela escola. A educação artística deve ser matéria
obrigatória no currículo básico e fundamental;
10.
Garantir nas escolas públicas dos bairros oficinas com os grupos culturais e
artistas (artesões, músicos, poetas, etc.) da própria comunidade;
11. O ensino do teatro e de todas as artes deve constar do
curriculum de todas as escolas públicas, do primário à universidade.
12. É
preciso um plano de obras públicas para construir teatros, centros culturais,
salas de cinema, dança e circo, com espaços livre para os artistas ensaiarem e
apresentarem suas obras;
13. Fim dos monopólios privados de produção e
exploração da arte e da cultura.
Os meios de produção da arte e da cultura devem estar nas mãos dos trabalhadores.
Abaixo a ingerência de organismos internacionais e multinacionais do financiamento das obras de preservação do patrimônio histórico.
Os meios de produção da arte e da cultura devem estar nas mãos dos trabalhadores.
Abaixo a ingerência de organismos internacionais e multinacionais do financiamento das obras de preservação do patrimônio histórico.
14. Defesa de toda a liberdade em arte. Não deve
haver qualquer privilégio a qualquer grupo, escola ou corrente artística.
Tampouco discriminação às correntes artísticas;
15. Defesa de todas as formas de organização
independente dos artistas e trabalhadores da arte e da cultura.
16.
Incentivar os grupos culturais populares existentes no Estado
17.
Criação e implementação de Centros culturais em cada município, com
administração a ser feita pelos produtores de cultura dos respectivos
municípios;
18.
Realizar as viradas culturais nos municípios, primando pela valorização dos
artistas locais;
19.
Realização de um Festival de Cultura artesanato, música, poesia, dança, etc)
que tenha como público alvo os artistas populares dos municípios.
20.
Realizar a Semana de Valorização da cultura negra no Estado;
21.
Realização da Bienal de Música do Pará, a ser realizada nas diferentes regiões
do estado, e contando com a participação das mais diversas expressões culturais
estaduais, nacionais e internacionais;
22.
Revitalização de prédios históricos nas regiões do Estado e assim criar Teatros
Regionalizados
23.
Ampliação da Fundação Curro Velho para as demais regiões do Estado.
24. Defesa do mais profundo
internacionalismo na arte e da mais estreita relação entre artistas de todo o
mundo.
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