13 de julho de 2012

15 anos da privatização da VALE: Valeu a pena?



15 anos da privatização da VALE: Valeu a pena?
MARLON WHISTNER,      Setor de Urbanitário.


     Em junho de 1997 a Companhia Vale do Rio Doce foi privatizada, o valor de 3,3 bilhões não pagava nem se quer os 10 bilhões pelo qual a empresa foi subavaliada pela corretora Merril Lynch, que posteriormente descobriu-se, que também participou da compra através da empresa participante do consórcio Anglo American com a qual tem estreitas ligações, sendo um de seus principais acionistas.
     A Merril Lynch “esqueceu” de levar em consideração nos seus cálculos várias jazidas descobertas um pouco antes da privatização, também não foi levado em consideração que a Companhia tinha 700 milhões de reais em caixa, que acabaram servindo de brinde para os compradores. Além disso, os ativos da empresa eram da ordem de 100 bilhões de reais, ou seja, 10 vezes mais do que o valor estimado pela Merril Lynch, entre outras, como acusações sobre o subdimensionamento das jazidas de ferro em Minas Gerais e na Serra dos Carajás no Pará, ou seja, existe uma infinidade de irregularidades no processo.


Crime contra a Nação
     Outra “pulga atrás da orelha” fica em relação à legalidade do negócio, pois a empresa explora reservas de urânio, o que em nossa legislação não é permitido para empresas privadas, assim como também explora minérios em áreas de fronteira, o que só poderia ser feito com autorização do congresso nacional, o que não ocorreu.


A privatização da VALE valeu a pena?
     Para muitos, a saúde financeira que empresa apresenta hoje são a comprovação de que a privatização foi o melhor caminho. Entre 2007 e 2011, a empresa gerou um retorno aos acionistas norte-americanos de incríveis 3.019 %, só em 2011 seu lucro líquido bateu recorde chegando a 22.885 bilhões de dólares. Porém se analisarmos os números antes e depois da privatização, veremos que os milagres da gestão privada, não são assim tão milagrosos.
Verificamos que logo após a venda os lucros da empresa subiram sobremaneira, devido às novas jazidas descobertas um pouco antes da privatização, essas jazidas eram ricas em ouro, além disso, com a privatização, vários ataques foram implementados contra os trabalhadores, o que permitiu um boom inicial devido ao aumento da exploração do trabalho, em 2007, apenas 10 % dos funcionários eram contratados diretos da VALE, o restante era de terceirizados.
   Porém, os grandes aumentos nos lucros da empresa deram-se a partir dos anos 2000, mais especificamente a partir de 2003, quando a demanda de ferro pela China começou a aumentar muito, por conseguinte também aumentando o preço do minério no mercado internacional, deste então até o ano de 2007 o preço do produto aumentou 750%, tendo como ápice deste período de elevação o ano de 2005. Pelo mesmo motivo as vendas da Vale aumentaram cerca de 70 %.
     Alguém poderia dizer que o aumento da produção só foi possível graças à gestão privada, mas a empresa também recebeu uma ajudinha para captar recursos. O BNDES tem participação de 12 % na VALEPAR, consorcio controlador da VALE, e sistematicamente vem investindo dinheiro público para garantir os lucros da empresa, entre 2008 e 2010, foram 7,3 bilhões em empréstimos para VALE, com taxa de menos de 8 % ao ano, tendo um retorno para a empresa de 12,4 % só no primeiro ano.
     Outro fator importante, tem haver com a política econômica que vem sendo implementada no país desde o governo tucano, mas que também foi mantida nos governos do PT, mantendo juros elevadíssimos, o que beneficiou o capital especulativo e trouxe benefícios diretos a VALE, que entre 1997 e 2011 teve um retorno de 210 % no Ibovespa.
     Bom lembrar também que a criminosa lei Kandir de 1997 isentou a VALE de pagar ICMS no estado do Pará, coincidentemente a lei entrou em vigor no ano da privatização. Em 2011, quando teve o seu lucro recorde de mais 22 bilhões, a Vale contribuiu para o erário com apenas R$ 31 milhões em impostos sobre minério de ferro exportado.
     Por isso, os grandes lucros obtidos pela VALE tem mais haver com as condições econômicas externas e com a política econômica dos governos brasileiros, do que com a gestão privada. Esses números comprovam o verdadeiro crime que foi a venda da empresa e que segue sendo em mantê-la privatizada.


Muito lucro, nenhum compromisso
     Os números acima dizem respeito apenas a origem dos lucros, porém não é só isso que faz uma empresa grande, ou pelo menos não deveria ser. É preciso levar em consideração os custos sociais e ambientais que sustentam estes imensos lucros.
     Em janeiro de 2012 a VALE ganhou o prêmio de pior empresa do mundo, pela destruição ambiental e pelos conflitos sociais que gera. Ela é responsável por uma exploração predatória na Amazônia, trazendo para o Brasil o setor pesado da indústria mais poluidora do mundo, a indústria eletrointensiva.
Este ramo industrial é responsável por uma alta emissão de poluidores e ao mesmo tempo exige uma produção de energia elétrica elevada, porém com baixo custo, por isso, a necessidade de obras que geram tanta destruição da floresta, como Belo Monte, que tem participação direta da VALE.


Reestatizar a VALE para beneficiar os trabalhadores e o povo pobre
     Infelizmente, os governos de Lula e também de Dilma não pautaram a reestatização da VALE. Como vimos argumentos não faltam para isso, em 2007 foi realizado um plebiscito popular pela reestatização da empresa, que à época foi ignorado pelo governo de Lula.
     É preciso colocar na ordem do dia a reestatização da VALE, hoje a empresa só beneficia os grandes investidores nacionais e internacionais, para o povo o que fica é a destruição, a miséria e os conflitos agrários subsidiados pelos seus empreendimentos.
    Todas as irregularidades na venda da empresa devem ser apuradas e seus responsáveis punidos. Defendemos a reestatização da VALE sem indenização e que a empresa seja colocada sob controle dos trabalhadores e do povo, para que seus lucros possam servir para mudar a forma de produzir riqueza no país, investindo em infraestrutura e um modelo de produção industrial mais limpo e que gere mais empregos.

Sítios interessantes:
www.lucioflaviopinto.com.br
www.justicanostrilhos.org
www.vale.com
http://www.pstu.org.br/jornal_materia.asp?id=5977&ida=20

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