15 anos da
privatização da VALE: Valeu a pena?
MARLON WHISTNER, Setor de Urbanitário.
Em junho de 1997 a Companhia Vale
do Rio Doce foi privatizada, o valor de 3,3 bilhões não pagava nem se quer os
10 bilhões pelo qual a empresa foi subavaliada pela corretora Merril Lynch, que
posteriormente descobriu-se, que também participou da compra através da empresa
participante do consórcio Anglo American com a qual tem estreitas ligações,
sendo um de seus principais acionistas.
A Merril Lynch “esqueceu” de
levar em consideração nos seus cálculos várias jazidas descobertas um pouco antes
da privatização, também não foi levado em consideração que a Companhia tinha
700 milhões de reais em caixa, que acabaram servindo de brinde para os
compradores. Além disso, os ativos da empresa eram da ordem de 100 bilhões de
reais, ou seja, 10 vezes mais do que o valor estimado pela Merril Lynch, entre
outras, como acusações sobre o subdimensionamento das jazidas de ferro em Minas
Gerais e na Serra dos Carajás no Pará, ou seja, existe uma infinidade de
irregularidades no processo.
Crime contra a Nação
Outra “pulga atrás da orelha”
fica em relação à legalidade do negócio, pois a empresa explora reservas de
urânio, o que em nossa legislação não é permitido para empresas privadas, assim
como também explora minérios em áreas de fronteira, o que só poderia ser feito
com autorização do congresso nacional, o que não ocorreu.
A privatização da VALE valeu a pena?
Para muitos, a saúde financeira
que empresa apresenta hoje são a comprovação de que a privatização foi o melhor
caminho. Entre 2007 e 2011, a empresa gerou um retorno aos acionistas
norte-americanos de incríveis 3.019 %, só em 2011 seu lucro líquido bateu
recorde chegando a 22.885 bilhões de dólares. Porém se analisarmos os números
antes e depois da privatização, veremos que os milagres da gestão privada, não
são assim tão milagrosos.
Verificamos que logo após a venda
os lucros da empresa subiram sobremaneira, devido às novas jazidas descobertas
um pouco antes da privatização, essas jazidas eram ricas em ouro, além disso,
com a privatização, vários ataques foram implementados contra os trabalhadores,
o que permitiu um boom inicial devido ao aumento da exploração do trabalho, em
2007, apenas 10 % dos funcionários eram contratados diretos da VALE, o restante
era de terceirizados.
Porém, os grandes aumentos nos
lucros da empresa deram-se a partir dos anos 2000, mais especificamente a
partir de 2003, quando a demanda de ferro pela China começou a aumentar muito,
por conseguinte também aumentando o preço do minério no mercado internacional,
deste então até o ano de 2007 o preço do produto aumentou 750%, tendo como
ápice deste período de elevação o ano de 2005. Pelo mesmo motivo as vendas da
Vale aumentaram cerca de 70 %.
Alguém poderia dizer que o
aumento da produção só foi possível graças à gestão privada, mas a empresa
também recebeu uma ajudinha para captar recursos. O BNDES tem participação de
12 % na VALEPAR, consorcio controlador da VALE, e sistematicamente vem
investindo dinheiro público para garantir os lucros da empresa, entre 2008 e
2010, foram 7,3 bilhões em empréstimos para VALE, com taxa de menos de 8 % ao
ano, tendo um retorno para a empresa de 12,4 % só no primeiro ano.
Outro fator importante, tem haver
com a política econômica que vem sendo implementada no país desde o governo
tucano, mas que também foi mantida nos governos do PT, mantendo juros
elevadíssimos, o que beneficiou o capital especulativo e trouxe benefícios
diretos a VALE, que entre 1997 e 2011 teve um retorno de 210 % no Ibovespa.
Bom lembrar também que a
criminosa lei Kandir de 1997 isentou a VALE de pagar ICMS no estado do Pará,
coincidentemente a lei entrou em vigor no ano da privatização. Em 2011, quando
teve o seu lucro recorde de mais 22 bilhões, a Vale contribuiu para o erário
com apenas R$ 31 milhões em impostos sobre minério de ferro exportado.
Por isso, os grandes lucros
obtidos pela VALE tem mais haver com as condições econômicas externas e com a
política econômica dos governos brasileiros, do que com a gestão privada. Esses
números comprovam o verdadeiro crime que foi a venda da empresa e que segue
sendo em mantê-la privatizada.
Muito lucro, nenhum compromisso
Os números acima dizem respeito
apenas a origem dos lucros, porém não é só isso que faz uma empresa grande, ou
pelo menos não deveria ser. É preciso levar em consideração os custos sociais e
ambientais que sustentam estes imensos lucros.
Em janeiro de 2012 a VALE ganhou
o prêmio de pior empresa do mundo, pela destruição ambiental e pelos conflitos
sociais que gera. Ela é responsável por uma exploração predatória na Amazônia,
trazendo para o Brasil o setor pesado da indústria mais poluidora do mundo, a
indústria eletrointensiva.
Este ramo industrial é
responsável por uma alta emissão de poluidores e ao mesmo tempo exige uma
produção de energia elétrica elevada, porém com baixo custo, por isso, a
necessidade de obras que geram tanta destruição da floresta, como Belo Monte,
que tem participação direta da VALE.
Reestatizar a VALE para beneficiar os trabalhadores e o povo pobre
Infelizmente, os governos de Lula
e também de Dilma não pautaram a reestatização da VALE. Como vimos argumentos
não faltam para isso, em 2007 foi realizado um plebiscito popular pela
reestatização da empresa, que à época foi ignorado pelo governo de Lula.
É preciso colocar na ordem do dia
a reestatização da VALE, hoje a empresa só beneficia os grandes investidores
nacionais e internacionais, para o povo o que fica é a destruição, a miséria e
os conflitos agrários subsidiados pelos seus empreendimentos.
Todas as irregularidades na venda
da empresa devem ser apuradas e seus responsáveis punidos. Defendemos a
reestatização da VALE sem indenização e que a empresa seja colocada sob
controle dos trabalhadores e do povo, para que seus lucros possam servir para
mudar a forma de produzir riqueza no país, investindo em infraestrutura e um
modelo de produção industrial mais limpo e que gere mais empregos.
Sítios interessantes:
www.lucioflaviopinto.com.br
www.justicanostrilhos.org
www.vale.com
http://www.pstu.org.br/jornal_materia.asp?id=5977&ida=20
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