O colapso da educação é um fenômeno nacional.
Investe-se pouco em educação pública no Brasil, há grande incentivo ao setor
privado e as políticas educacionais, via de regra, não são definidas no chão da
escola e sim por organismos internacionais, como o Banco Mundial, o que faz com
que a política educacional esteja a serviço dos interesses do grande capital e
não da emancipação humana.
No Pará, este triste cenário adquire contornos
ainda mais graves. Existe um verdadeiro apartheid educacional entre ricos e pobres no
que se refere aos indicadores de acesso, evasão, repetência e demais índices
sócio-educacionais em nosso Estado, a começar pelas taxas de escolarização.
Segundo o Sistema de Indicadores Sociais (SIIS) do Ministério Público do Estado [1], apenas 4,71% da população de 0 a 3
anos está matriculada em creches e 36,12% na pré-escola (4 e 5 anos). Trata-se
de uma verdadeira tragédia, pois o Estado e a União pouco ou nada tem feito
para garantir o direito à educação neste nível de ensino, deixando a cargo dos
municípios, que são os entes federados mais frágeis, a oferta da educação
infantil.
Em relação ao ensino fundamental, ainda que os
dados indiquem que haja vagas suficientes, o principal desafio diz respeito à
qualidade, pois as escolas padecem de uma doença crônica que é a precarização
das condições de trabalho e ensino-aprendizagem. Falta quase tudo: quadras
poliesportivas, laboratórios, bibliotecas, materiais e equipamentos, além de
política de formação e valorização dos trabalhadores em educação para preparar
um salto de qualidade nos níveis de aprendizagem e desempenho escolar das
crianças e adolescentes.
No ensino médio, que é um nível de ensino de
responsabilidade direta do Estado, salta à vista a baixíssima taxa de
escolarização líquida dos jovens de 15 a 18 anos. Segundo o SIIS, são apenas
53,27% dos jovens nesta faixa etária que estão matriculados no ensino médio,
isto é, quase metade, portanto, dos jovens estão fora da escola. Esse drama
educacional tem relação direta com o exponencial crescimento da violência na
escola e na sociedade e com outros problemas sociais, como a prostituição
infanto-juvenil, o desemprego e o trabalho infantil. Todos esses problemas
sociais se alimentam um do outro.
Há também um déficit histórico e estrutural do
Estado do Pará com relação à política de ensino superior. A única Universidade
do Estado, a UEPA, oferece pouco mais de 3 mil vagas anuais em seus processos
seletivos e contou em 2013 com um minguado orçamento de cerca de R$ 230 milhões [2], isto é, menos de 2%, de um total de
mais de 17 bilhões do Orçamento Geral do Estado. É necessário uma política de
vinculação tributária estadual do ICMS com o repasse de verbas para o ensino
superior estadual, tal como ocorre nas universidades estaduais paulistas, além
de uma política de cotas raciais (para além das cotas sociais já aprovadas)
para que se avance na democratização do ensino superior.
A falta de investimentos e de políticas
públicas é geral. Reflete-se também nas diversas modalidades de ensino, como a
educação de jovens e adultos, o ensino técnico e profissionalizante, a educação
indígena e a educação especial, o que faz com que o nosso Estado amargue
péssimos índices sociais e educacionais. Na última avaliação do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) [3],
por exemplo, o Pará ficou em 24º lugar no Ranking dos Estados, com um IDHM de
0,646, no qual o indicador de Educação foi avaliado em 0,528 em uma tabela que
vai até 1,0. Trata-se de um resultado muito negativo para os parâmetros
internacionais. Pior que o Pará somente os estados de Alagoas e do Maranhão. Só
a cidade de Melgaço, na ilha do Marajó, tem o pior Índice de Desenvolvimento
Humano do país, com uma taxa de analfabetismo de mais de 50% da população.
A avaliação do IDEB (Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica) também expressou em grande medida a
alarmante realidade da educação no Pará. Para os anos iniciais do ensino
fundamental, o estado teve uma pontuação de 4,2, a mesma da região norte, mas
inferior ao índice nacional, 5. Com relação aos anos finais do ensino
fundamental, o Pará conseguiu média 3,7 em 2011, um décimo abaixo da média dos
estados região norte (3,8) e quatro décimos a menos do que a média nacional
(4,1) [4].
Outra chaga do apartheid educacional em nosso Estado diz
respeito ao analfabetismo. O Pará tem o segundo pior índice do Brasil, ficando
na frente apenas de Alagoas, segundo dossiê [5] divulgado em 2013 pela Sociedade Paraense de
Defesa dos Direitos Humanos. O índice do estado chega a 12%, enquanto que a
média nacional é de 8%. Os dados da Pnad/IBGE (Pesquisa Nacional de Amostragem
por Domicílio) [6] indicam que a incidência do analfabetismo
entre idosos no Pará é extremamente elevada (41%) e se encontram acima da média
nacional, que é de 30%. O analfabetismo atinge os mais pobres, pois 93% dos
analfabetos possuem renda familiar inferior a 2 salários mínimos.
A Pnad também apontou que a
população de analfabetos funcionais está mais concentrada na área urbana. Em
2009, registraram-se 250.124 analfabetos funcionais no campo e 447.049
analfabetos funcionais na área urbana. Os analfabetos funcionais também estão
mais concentrados entre as pessoas que se declararam pretas ou pardas (569.340
mil em 2009) do que entre os brancos (123.704 mil).
Há ainda o desafio de se elaborar
e implementar políticas públicas voltadas para as pessoas com deficiência. No
Pará, são mais de 1,7 milhões de pessoas, ou 23% da população, que tem algum
tipo de deficiência e a rede estadual não está preparada para acolher estas
pessoas. A educação inclusiva não passa de discurso dos tecnocratas da
Secretaria de Estado de Educação (SEDUC). Os direitos das pessoas com
deficiências são desrespeitados cotidianamente com a falta de estrutura,
formação e atendimento especializado na rede estadual de educação. E isto se
repete nos municípios também. Em Belém, por exemplo, segundo a Secretaria
Municipal de Educação (Semec), estão disponíveis, hoje, apenas 33 salas de
recursos multifuncionais montadas para atender os alunos com deficiência da
rede municipal.
O sonho da educação pública,
gratuita e de qualidade socialmente referenciada está também indissociavelmente
ligada à uma política de valorização dos trabalhadores em educação. Não foram
poucas as greves dessa categoria contra o descaso do governo Dilma e Jatene com
a educação. É necessário parar com a política de desoneração fiscal quem vem
sendo implementada pelo governo federal/PT e que só beneficia as grandes
empresas enquanto o já baixo orçamento dos municípios é ainda mais reduzido. Em
nosso estado, com a política de redução do IPI os municípios paraenses tiveram
uma perda no FPM (Fundo de Participação dos Municípios) de meio bilhão
(2007-2012), e que foi usado de justificativa para vários prefeitos não
garantirem os direitos dos trabalhadores em educação e fazer os investimentos
que deveriam ser realizados na educação. É necessário reajustar os salários,
ampliar na Carreira o tempo da hora-atividade para 1/3, realizar concurso
público para suprir o déficit de professores, cumprir a Lei do Piso Nacional,
romper com a Lei de Responsabilidade Fiscal e elevar os investimentos em
educação para, no mínimo, 30% do orçamento. Também é preciso limitar a
quantidade de alunos por sala de aula (20 na educação infantil, 25 no ensino
fundamental e 30 no ensino médio).
Todas estas medidas devem vir
acompanhadas de políticas de incentivo à formação inicial e continuada dos
trabalhadores em educação; da criação de sistemas de avaliação democráticos e
emancipatórios; da democratização da gestão da escola, com a garantia das eleições
diretas para diretores de escola, fortalecimento dos conselhos escolares e
conselhos de classe, incentivo à criação de grêmios estudantis e maior
participação de pais e da comunidade na construção e execução dos projetos
político-pedagógicos, da organização do ensino e do currículo escolar. Algumas
medidas emergenciais são necessárias para iniciar a reversão deste cenário:
16 medidas para mudar a educação
no Pará:
1. Investimento imediato de 10% do PIB nacional exclusivamente em
educação pública!
2. Investimento de no mínimo 30% do orçamento estadual em
educação!
3. Vinculação e Repasse de 10% da arrecadação do ICMS para a UEPA!
4- Reposição das perdas ocorridas com a política de redução do IPI
aos municípios!
5. Erradicação do analfabetismo e universalização da educação
infantil em 4 anos!
6. Universalização do ensino médio em 4 anos!
7. Pelo cumprimento da Lei do Piso Nacional!
8. Pela implementação do PCCR formulado pelos trabalhadores em
educação!
9. Abertura imediata de concurso público!
10. Elevação geral de salários!
11. Por reforma geral nas escolas!
12. Democratização da gestão escolar!
13. Por uma reforma geral no currículo escolar!
14. Por uma política formação inicial e continuada para os
trabalhadores em educação e que respeite a cultura de cada região!
15. Por uma política de acessibilidade e inclusão das pessoas com
deficiência!
16. Por um sistema de avaliação institucional formativo,
democrático e emancipatório!
[1] Para mais detalhes, consultar: http://www.mp.pa.gov.br/pga/ anexo_6-pga-apresentacao-dr_ natanael.pps.
[2] Para mais detalhes, consultar: http://www.sepof.pa.gov.br/ pdf/Volume_I_ODE2013.pdf
[3] Para mais detalhes, consultar: http://www.pnud.org.br/IDH/ Atlas2013.aspx? indiceAccordion=1&li=li_ Atlas2013
[4] Dados retirados de: http://www.diariodopara.com. br/impressao.php?idnot=47616
[5] Disponível em: http://dhe.sddh.org.br/ dheducacao/static/pdf/dossie. pdf
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