15 de outubro de 2013

OBRA PARAENSE MISTURA HISTÓRIA E FICÇÃO PARA APRESENTAR A CABANAGEM A UMA NOVA GERAÇÃO.

Por Glailson Santos (PSTU - Belém)


Aproveitando o afã de resgate e valorização da cultura regional que inspira a proximidade do Círio e o clima suscitado pelas históricas mobilizações populares que vem sacudindo o país desde junho e que parecem tomar novo fôlego com a luta dos professores em todo o país, eis que chega finalmente as minhas mãos o romance "Em Tempos Cabanos - amor e ódio na aurora cabana", o primeiro livro do escritor Antonio Pinheiro Cabral, publicado pela Editora Paka-Tatu em agosto do ano passado.

Este primeiro volume faz parte de uma trilogia que narra a história de um destemido caboclo chamado Santis, que tenta esquecer o trágico passado a bordo do infame Brigue Palhaço até ser tragado pelo turbilhão de acontecimentos históricos que culminarão em uma das mais importantes insurreições populares da história do Brasil, a Cabanagem.

Recheada de referencias históricas, a obra nos transporta para a conturbada Província do Grão Pará, que na primeira metade do século XIX encontrava-se mergulhada no ambiente de tensão de uma sociedade polarizada por uma elite estrangeira decadente e arbitraria e uma população de negros, indígenas e mestiços miserável esquecidos nos confins inóspitos de uma nação em formação. O livro de Antonio Pinheiro Cabral representa uma ousada iniciativa que não podemos deixar de saudar, uma vez que a Cabanagem, embora tenha sido a mais sangrenta insurreição brasileira, tem sido insistentemente relegada aos rodapés da história.

Certamente não é por acaso que uma rebelião popular onde foi massacrado quase um terço dos 150 mil habitantes da então província do Grão Pará (que abarcava os atuais estados do Maranhão, Pará, Amapá e Amazonas), não tenha obtido sequer o mesmo destaque dado pela história oficial a Revolução Farroupilha. Uma vez que na revolução sulista, tão importante quanto a Cabanagem para delinear o mapa atual do Brasil, em dez anos de conflito não foram registradas mais do que quatro mil mortes. Para ter um exemplo mais claro do grau de descaso com este episódio importantíssimo de nossa história, basta lembrar que a mítica Guerra de Canudos, decorrida nos últimos anos do século XIX, teve como saldo praticamente a metade das mortes causadas pela repressão à Cabanagem.

A razão para tamanha violência e a explicação para toda indiferença da história oficial em relação a Cabanagem não poderia ser outra, o fato é que no século XIX, o norte do Brasil presenciou a primeira insurreição popular onde as camadas mais pauperizadas da população realmente tomaram o poder. Embora tenha sido desgraçadamente afogada em sangue pelo governo imperial e repetidas vezes traída por direções conciliadoras que teimaram em titubear nos momentos mais decisivos, a Cabanagem foi uma insurreição popular que abalou as bases do poder das elites do século XIX, num episódio que nos deixou importantes lições para as lutas da atualidade. Resgatar essa história e disponibilizá-la de forma lúdica para as novas gerações é o mérito inquestionável desta interessante obra.

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