18 de outubro de 2014

AS ORIGENS DO ESTADO ISLÂMICO

Por João, militante do PSTU Belém

   Uma organização sanguinária alarma ao mundo. Trata-se do Estado Islâmico, um partido-exército cruel. Vindo da Al Qaeda, sua ação se baseia ideologicamente no fundamentalismo religioso. Na prática, algo não tão distante das ações Nazistas ou Israelenses. Na prática, a mesma crueldade de Assad, Kadafi ou Pinochet. Assassinatos em massa, decapitações, crucificações, escravização e mutilação das mulheres, perseguição religiosa etc.
   Para entendermos o que acontece naquela região -mesopotâmia-, para entendermos as leis que operam o crescimento do Estado Islâmico, é preciso ir além da cortina ideológica midiática. Não se trata simplesmente de uma organização religiosa. Não se trata simplesmente de uma guerra entre os maus vilões fundamentalistas e os heróis americanos.

O IMPULSO DA GUERRA: DINHEIRO

Se a religião não é o motor desta guerra, mas um meio, o que seria então a causa? A resposta é simples: riqueza. Senão vejamos alguns dados.

   O Iraque é simplesmente o sexto maior produtor de petróleo do mundo- 9% da produção mundial. A sua reserva é estimada em 150 bilhões de barris. Em 2013, o país atingiu a marca de produção superior a 3 milhões de barris de petróleo por dia. A renda governamental sob o regime Maliki chegou a 100 bilhões em 2013. Seria excelente para a população se a crise não necessitasse excluir a participação dos trabalhadores, principalmente sunitas, da participação na renda Iraquiana. A corrupção no sétimo país mais corrupto do mundo, segundo a ONG Transparência Internacional, cobrou seu preço ao proletariado. A renda do petróleo foi gasta às dezenas de bilhões na compra de caças e equipamentos de guerra americanos. O desemprego alcançou 15% dos iraquianos em 2012. Acesso a esgoto é um privilégio para 25% dos iraquianos. O resultado não poderia ser outro.

AS FACÇÕES BURGUESAS BUSCAM SUA FATIA

   Foi então em Junho de 2013 que cresceu a disputa entre os componentes da burguesia árabe, pelos restos da exploração petrolífera. Os combatentes do E.I tomaram a cidade de Mosul e assumiram controle econômico do local. Juntaram milhões da sede do Banco Central da cidade. Em seguida avançaram mais. Além dos campos de Deir al-Zor e Raqba,na Síria, os contrarrevolucionários islâmicos assumiram o controle da já citada Mosul - terceira maior cidade do Iraque- ,campos de petróleo de Najma e Qayara, ao passo que mais ao sul, próximo a Tikrit, foram tomados os campos de Himreen e Ajil. Há também a disputa pela maior refinaria do país em Baiji. Um trecho do texto de Michael Scwartz, “Insurgência e guerra num mar de petróleo”, é capaz de deixar mais claro os interesses do grupo islâmico
   “Outras provas da intenção dos insurgentes de controlar uma porção do fluxo de dinheiro do petróleo” pode ser encontrada nas primeiras ações empreendidas por guerrilheiros tribais, depois que capturaram a usina elétrica de Baiji: “Os militantes não causaram qualquer dano e instruíram os trabalhadores para que mantivessem a usina ligada”, todos prontos para reiniciar a operação o mais rapidamente possível”.

A RELIGIÃO USADA COMO MEIO DE GUERRA E ENRIQUECIMENTO

   A conclusão a que chegamos é que o fator religioso não foi o determinante para a detonação desta nova guerra. Antes da crise de 2008, as frações da burguesia Iraquiana, Sunitas, Xiitas, e Curdos não chegaram ao alto grau de atrito e divisão observados hoje. Como o “tamanho do bolo” diminuiu, ou seja, os dividendos da exploração de petróleo reduziram para os lacaios do imperialismo, a luta pela fatia do “bolo” aumentou. Neste sentido, a divisão religiosa é um instrumento ideológico estimulado pelo imperialismo para dividir os trabalhadores árabes e explorá-los melhor. A religião como ideologia, está a serviço do lucro e da guerra.
   Repete-se neste caso o exemplo visto em outras guerras do século XX. Após um período de relativa estabilidade econômica mundial, estoura uma crise capitalista típica e o mundo vê as potências mundiais afogarem a humanidade na barbárie da guerra, devido à ganância da indústria armamentícia e do capital financeiro mundial.
   O exemplo da segunda guerra mundial é típico. A crise iniciada em 1929 com a quebra da bolsa de valores americana gerou uma depressão na taxa de lucro das potências mundiais, a qual por seguinte gerou a paranoia nazifascista de Hitler e Mussolini, levando a humanidade à uma guerra sem precedentes na história. Este é exemplo de muitos.
A religião substitui, neste caso, a ideologia da supremacia racial de Hitler. Sua origem é a mesma: a crise econômica do capital. A sua utilidade também é a mesma: dar base sólida ideológica, construir discursos para levar a humanidade a mais guerras sanguinárias para poder recuperar a taxa de lucro pré-crise.
   A intervenção americana no Oriente Médio, neste sentido, é tão humanitária quanto seu bombardeio atômico em Hiroshima e Nagasaki. Acontece que os EUA não dão “ponto sem nó”. Os EUA estimularam o fundamentalismo islâmico quando armaram a Al Qaeda para combater os soviéticos. Hoje fazem discurso humanitário no mesmo afã de dominar a região.

Nós sabemos que a guerra imperialista é uma guerra contra humanidade e que para derrotá-la, os trabalhadores árabes terão de fazer a “sua guerra”, uma guerra de libertação contra os EUA e os seus agentes contrarrevolucionários: Assad, Israel, o regime Turco e o E.I. Está mais provado que nunca: socialismo ou barbárie.

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