Por João, militante do PSTU Belém
Uma organização sanguinária
alarma ao mundo. Trata-se do Estado Islâmico, um partido-exército cruel. Vindo
da Al Qaeda, sua ação se baseia ideologicamente no fundamentalismo religioso. Na
prática, algo não tão distante das ações Nazistas ou Israelenses. Na prática, a
mesma crueldade de Assad, Kadafi ou Pinochet. Assassinatos em massa, decapitações,
crucificações, escravização e mutilação das mulheres, perseguição religiosa
etc.
Para entendermos o que acontece
naquela região -mesopotâmia-, para entendermos as leis que operam o crescimento
do Estado Islâmico, é preciso ir além da cortina ideológica midiática. Não se
trata simplesmente de uma organização religiosa. Não se trata simplesmente de
uma guerra entre os maus vilões fundamentalistas e os heróis americanos.
O IMPULSO DA GUERRA: DINHEIRO
Se a religião não é o motor desta guerra, mas um meio, o que seria
então a causa? A resposta é simples: riqueza. Senão vejamos alguns dados.
O Iraque é simplesmente o sexto
maior produtor de petróleo do mundo- 9% da produção mundial. A sua reserva é
estimada em 150 bilhões de barris. Em 2013, o país atingiu a marca de produção
superior a 3 milhões de barris de petróleo por dia. A renda governamental sob o
regime Maliki chegou a 100 bilhões em 2013. Seria excelente para a população se
a crise não necessitasse excluir a participação dos trabalhadores, principalmente
sunitas, da participação na renda Iraquiana. A corrupção no sétimo país mais
corrupto do mundo, segundo a ONG Transparência Internacional, cobrou seu preço
ao proletariado. A renda do petróleo foi gasta às dezenas de bilhões na compra
de caças e equipamentos de guerra americanos. O desemprego alcançou 15% dos
iraquianos em 2012. Acesso a esgoto é um privilégio para 25% dos iraquianos. O
resultado não poderia ser outro.
AS FACÇÕES BURGUESAS BUSCAM SUA FATIA
Foi então em Junho de 2013 que
cresceu a disputa entre os componentes da burguesia árabe, pelos restos da
exploração petrolífera. Os combatentes do E.I tomaram a cidade de Mosul e
assumiram controle econômico do local. Juntaram milhões da sede do Banco
Central da cidade. Em seguida avançaram mais. Além dos campos de Deir al-Zor e
Raqba,na Síria, os contrarrevolucionários islâmicos assumiram o controle da já
citada Mosul - terceira maior cidade do Iraque- ,campos de petróleo de Najma e
Qayara, ao passo que mais ao sul, próximo a Tikrit, foram tomados os campos de
Himreen e Ajil. Há também a disputa pela maior refinaria do país em Baiji. Um
trecho do texto de Michael Scwartz, “Insurgência e guerra num mar de petróleo”,
é capaz de deixar mais claro os interesses do grupo islâmico
“Outras provas da intenção dos
insurgentes de controlar uma porção do fluxo de dinheiro do petróleo” pode ser
encontrada nas primeiras ações empreendidas por guerrilheiros tribais, depois
que capturaram a usina elétrica de Baiji: “Os militantes não causaram qualquer
dano e instruíram os trabalhadores para que mantivessem a usina ligada”, todos
prontos para reiniciar a operação o mais rapidamente possível”.
A RELIGIÃO USADA COMO MEIO DE GUERRA E ENRIQUECIMENTO
A conclusão a que chegamos é que
o fator religioso não foi o determinante para a detonação desta nova guerra.
Antes da crise de 2008, as frações da burguesia Iraquiana, Sunitas, Xiitas, e
Curdos não chegaram ao alto grau de atrito e divisão observados hoje. Como o
“tamanho do bolo” diminuiu, ou seja, os dividendos da exploração de petróleo
reduziram para os lacaios do imperialismo, a luta pela fatia do “bolo”
aumentou. Neste sentido, a divisão religiosa é um instrumento ideológico
estimulado pelo imperialismo para dividir os trabalhadores árabes e explorá-los
melhor. A religião como ideologia, está a serviço do lucro e da guerra.
Repete-se neste caso o exemplo
visto em outras guerras do século XX. Após um período de relativa estabilidade
econômica mundial, estoura uma crise capitalista típica e o mundo vê as
potências mundiais afogarem a humanidade na barbárie da guerra, devido à
ganância da indústria armamentícia e do capital financeiro mundial.
O exemplo da segunda guerra
mundial é típico. A crise iniciada em 1929 com a quebra da bolsa de valores americana
gerou uma depressão na taxa de lucro das potências mundiais, a qual por
seguinte gerou a paranoia nazifascista de Hitler e Mussolini, levando a
humanidade à uma guerra sem precedentes na história. Este é exemplo de muitos.
A religião substitui, neste caso,
a ideologia da supremacia racial de Hitler. Sua origem é a mesma: a crise
econômica do capital. A sua utilidade também é a mesma: dar base sólida
ideológica, construir discursos para levar a humanidade a mais guerras
sanguinárias para poder recuperar a taxa de lucro pré-crise.
A intervenção americana no
Oriente Médio, neste sentido, é tão humanitária quanto seu bombardeio atômico
em Hiroshima e Nagasaki. Acontece que os EUA não dão “ponto sem nó”. Os EUA
estimularam o fundamentalismo islâmico quando armaram a Al Qaeda para combater
os soviéticos. Hoje fazem discurso humanitário no mesmo afã de dominar a
região.
Nós sabemos que a guerra
imperialista é uma guerra contra humanidade e que para derrotá-la, os
trabalhadores árabes terão de fazer a “sua guerra”, uma guerra de libertação
contra os EUA e os seus agentes contrarrevolucionários: Assad, Israel, o regime
Turco e o E.I. Está mais provado que nunca: socialismo ou barbárie.
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