No Pará, os professores da rede estadual ocupam
a Assembléia Legislativa, em uma greve que completa 50 dias
Quando os trabalhadores
em educação no Pará dizem: “A luta continua!”, eles não estão se referindo
apenas à atual greve dos professores da rede estadual. Esses trabalhadores se
referem à sua luta diária em defesa de uma educação de qualidade. Referem-se ao
estresse de dar aula em mais de uma escola, em prédios que muitas vezes não tem
bebedouros ou banheiros. Referem-se à violência a qual estão expostos todos os
dias, e a falta de tempo para elaborar aulas e provas. E, principalmente, ao
salário de miséria que recebem em troca de todo o esforço e dedicação. É uma
luta diária em defesa da educação!
Caos
na Educação
Se o governador do
estado do Pará, Simão Jatene, não acha que é legítima a greve dos professores e
manda seus secretários dizerem mentiras na televisão, é porque educa seus
filhos e netos nas escolas mais caras de Belém. Se ele não concorda com a
justeza das reivindicações dos trabalhadores, podemos apresentar alguns
números: Em pesquisa
realizada pela Universidade Federal do Pará (UFPA), 35% dos alunos de Belém já
viram algum tipo de arma na sua escola e 49% dos professores já vivenciaram uma
invasão por pessoas de fora em ações de roubo ou furto.
Outra pesquisa feita
pelo IBGE aponta uma queda no número de jovens acima de 15 anos nas escolas, e
esta evasão se dá principalmente em estados do Norte, como o Pará. A causa para
isso está ligada, entre outros, à falta de professores. Na pesquisa Ibope que
mede a “audiência” nas escolas, a falta de professor faz com que o aluno perca
até 40%
do seu ano letivo. Por isso, dizer que os professores
estão deixando os alunos do ensino médio sem aula é uma mentira! Quem faz isso
é o governo do PSDB.
Dados do Ideb (MEC)
mostram o retrocesso na educação no Pará: os números do ensino médio tiveram
uma retração visto que dos 3,1 alcançados em 2009, caiu para 2,8 em 2011. Esse
número está quatro décimos abaixo da média da região norte, que é de 3,2 e
quase um ponto abaixo da pontuação média do país, que é de 3,7. Para o
professor de sociologia do estado, Abel Ribeiro, esses dados estão relacionados
às péssimas condições de trabalho: “O professor paraense é o que tem mais carga
horária na tentativa de alcançar um salário digno, mas precisamos de tempo para
qualificação e elaboração de aulas. Um profissional que trabalha 10 horas por
dia não tem um bom desempenho. Principalmente os que dão aula à noite que
muitas vezes é obrigado à liberar os alunos mais cedo para fugir da violência”,
explica.
Ainda segundo ele, doenças
psicossomáticas como depressão e síndrome do pânico são comuns na categoria.
Além da grande quantidade de licença saúde, decorrentes da extensa jornada de
trabalho. Analisando esses dados é possível ver o cenário desastroso em que os
trabalhadores da educação estão inseridos e o desrespeito com que são tratads:
“Dentre as profissões de nível superior, nosso salário é um dos mais baixos.
Não queremos privilégio, queremos respeito e dignidade para a profissão. A
nossa greve se pauta não só pela questão salarial, mas por uma luta de melhoria
da educação no estado do Pará”, disse Abel, que é coordenador estadual da CSP-
Conlutas. Ele continua: “Nós estamos chamando a atenção da população e do poder
público para esse caos e para mudar essa situação precisamos de um investimento
conseqüente”.
Em municípios do
interior do estado, essa realidade se agrava. As denúncias partem, principalmente,
de professores do Sistema de Orientação Modular de Ensino (SOME). Eles viajam
para municípios distantes para dar aulas em condições precárias. Os espaços de
aula são irregulares, o transporte e o material escolar improvisados. E em
muitos lugares, o banheiro, também.
Respeito
e valorização
Um professor brasileiro
ganha menos da metade
do salário dos professores de todos os países da OCDE
(Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que reúne mais de 30
países. Os governos federais e estaduais tentam, de toda a forma, deturpar os
valores. O MEC (Ministério da Educação) realiza anualmente o Educacenso, um
levantamento detalhado da educação básica que pergunta tudo sobre a formação do
professor e de sua atividade, mas não pergunta o seu salário. É por isso que o governador
Simão Jatene (PSDB) envia o secretário de estado, Alex Fiuza de Mello, para
falsear informações e enganar a população na televisão. E além de mentiras,
deboche: “já atendemos 90% das pautas. O que eles querem? Trocar de carro todo
o ano?”, disse o secretário, em entrevista.
10% do PIB, já!
Em
geral, quase todo o ano nós acompanhamos longas greves de professores da
educação pública no país. As pautas também já foram ouvidas: melhoria nas
condições de trabalho, plano de cargos e salários, abertura de concurso
público, etc. A desculpa dos governos sempre é a falta de recursos para
investir na área. Será? A verdade é que o governo prioriza o pagamento de juros
e amortizações da dívida externa, repassando mais de 46% do PIB brasileiro para
banqueiros. Enquanto isso, apenas 4% é destinado à educação. Mas enquanto todos
nós já ouvimos, parece que a presidente Dilma, não. No final de 2012, a dívida
(interna e externa) era a maior da história. O governo Dilma está, mais uma vez,
na contramão dos interesses sociais exigidos nas jornadas de junho: “Da COPA eu
abro mão, quero dinheiro pra saúde e educação!”.E o governo de Jatene (PSDB)
segue a mesma lógica, já que dados provam que existe
dinheiro
para o pagamento do retroativo dos professores, o que não existe é interesse.
A
greve continua. Jatene, a culpa é tua!
A greve já completa 50
dias e várias batalhas foram vencidas. Isso porque a categoria permaneceu unida em
atos, fechamento de vias e ocupação de prédios públicos como o da
Secretaria de Educação (Seduc) e, agora, o prédio sede da Assembleia
Legislativa do Pará (ALEPA). Na Seduc, o professor Abel Ribeiro foi preso por
passar pão e água pelo portão. Na ocasião, que ficou conhecida como “tráfico de
pão”, spray de pimenta foi jogado no rosto da professora que passava o alimento
e de profissionais da imprensa. “O governo nega salário e condições dignas de
trabalho para nós, mas negar água e alimentação aos trabalhadores já é demais
(...) mas o que podemos esperar de Jatene, se seu partido [PSDB] foi o mesmo
que mandou assassinar 19 sem terras em El Dorado dos Carajás?”, indagou o
educador.
Sem
exploração e opressão
Toda a intransigência do governo e truculência da polícia fortaleceu ainda mais a categoria. Hoje, ocupando a ALEPA,
a greve continua cada vez mais forte. Todos os dias tem programação para
discussões que envolvam educação, vídeo-debates e, à noite, atividades
culturais. Na última quinta-feira, cerca de 100 trabalhadores da construção
civil foram até o local, junto com o vereador Cléber Rabelo, prestar
solidariedade. Na sexta-feira, foi a vez do MML ocupar o espaço com o debate
sobre a violência e o convite aos ativistas para a construção de atividades no
Dia de Combate à Violência Contra a Mulher (25). E neste domingo, o Quilombo
Raça e Classe também se faz presente com um vídeo-debate em alusão ao mês da
consciência negra.
Vitórias
Nesse final de semana,
o governo, que se recusava a negociar com grevistas, recuou: apresentou
propostas para a redução da jornada de trabalho e o pagamento do retroativo. Na
próxima terça-feira, às 15h, será realizada uma nova Assembleia para analisar
as propostas do governo e decidir os rumos do movimento. Além de Belém, mais 50
municípios do estado também pararam. Para Abel, essa greve já é vitoriosa: “A
greve é muito positiva politicamente porque já impôs uma derrota ao governo do
estado que teve que mudar o discurso. Ela está fazendo com que os trabalhadores
acreditem nas suas forças, na sua unidade”.
Imagens de escola estadual inundada em Belém, em vídeo: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Ij6b6CcU8Wo
Muito bom o post gostei muito !
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