11 de novembro de 2014

Manifestações exigem apuração e punição dos responsáveis pela chacina em Belém

Na última quarta-feira (05/11) Belém amanheceu contando seus mortos. O assassinato do Cabo Figueiredo (Rotam) desencadeou uma onda de violência que culminou no assassinato de, pelo menos, 10 pessoas. Foram trabalhadores, jovens, negros moradores da periferia da cidade. Assassinados pela polícia porque cometeram o crime de serem pobres.  Para se solidarizar com as famílias das vítimas e exigir a apuração e punição dos responsáveis pela chacina, moradores de vários bairros de Belém e organizações sociais promoveram várias manifestações. 
Durante a noite da segunda-feira (10), uma vigília foi realizada na Praça da Terra Firme e reuniu cerca de 150 pessoas. “Apesar de ser um ato pequeno, ele tem uma grande simbologia. Nós estamos aqui nos solidarizando com as famílias, mas com a certeza de que qualquer um de nós poderia estar representado nessas cruzes”, falava Edmar Silva, morador da Terra Firme e militante do PSTU, enquanto apontava para as cruzes espalhadas no chão da praça que simbolizavam os mortos na chacina. 
Apesar da tentativa do governador Simão Jatene (PSDB) de dizer que eram só boatos, de jogar a responsabilidade para a população, e apesar dos meios de comunicação comprarem o discurso oficial, os moradores da Terra Firme, do Guamá, Jurunas e tantos outros bairros sabem quem são os verdadeiros responsáveis. O que acontece é fruto da falta de investimentos em políticas de segurança, educação, esporte, lazer e cultura. O PSDB, de Jatene e Zenaldo, mancha mais uma vez o amarelo de sua bandeira com o vermelho do sangue de inocentes. 
“Meu neto era uma criança. Ele trabalhava e queria fazer uma faculdade, ter uma família. Por que fizeram essa maldade com ele?” perguntava inconformada dona Maria Auxiliadora, avó de Eduardo, adolescente de 16 anos, assassinado na última quarta-feira. 

Violência policial tem cor, idade e classe social

Os trabalhadores duvidam dos números oficiais porque sabem da violência, repressão e opressão que a PM impõe diariamente na periferia. E os dados não negam. O 8º anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela que a polícia brasileira é a das que mais mata no mundo. De acordo com o levantamento, a polícia matou no país uma média de seis pessoas por dia entre 2009 e 2013. Foram 11.197 mortos pela polícia nos últimos cinco anos. As mortes têm cor, idade e classe. De acordo com os dados da Anistia Internacional, em 2012, 77% dos jovens entre 15 e 29 anos assassinados são negros. 
Mas a periferia resiste! E aos poucos transforma seu luto em luta. Durante a manhã de hoje (11), um ato público saiu da Escadinha do Cais do Porto rumo à Assembleia Legislativa do Pará (ALEPA) para cobrar apuração e punição dos responsáveis pela chacina.  O ato, que reuniu cerca de 400 pessoas, também cobra a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o caso. 
O vereador Cleber Rabelo (PSTU) esteve presente no ato e lembrou que casos semelhantes a esse já aconteceram, como em novembro de 2011, quando o militar Rosivan Moraes Almeida assassinou seis adolescentes no distrito de Icoaraci. Rabelo também lembrou que a população pode apostar em vários mecanismos para exigir a apuração do caso, mas que a solução passa pela organização dos trabalhadores e das trabalhadoras para a luta. “A cada dia, nós morremos um pouco junto aos nossos camaradas e familiares que tombam vítimas desse Estado. E em memória deles, devemos exigir a investigação e a punição dos responsáveis. Mas, atenção: eu sou operário da construção civil, hoje estou vereador e posso dizer a vocês, sem medo de errar: não confiem na Câmara Municipal, nem na Assembleia Legislativa! Várias CPI’s são feitas e acabam em pizza, como a da ALEPA (...) O destino das nossas vidas, nós traçamos nas lutas. Só com mobilização e pressão conseguiremos as vitórias!”, disse.

Marcha da Periferia: um convite à resistência

No período em que se comemora o Dia da Consciência Negra, será realizada em Belém a segunda edição da Marcha da Periferia. Organizada por diversas entidades sociais, a exemplo do Movimento Quilombo Raça e Classe (CSP-Conlutas), a marcha acontecerá no dia 23 de novembro, no bairro da Terra Firme e terá como slogan “Do luto à luta: a periferia resiste!”, em memória à chacina que abalou a cidade no início do mês. “Mais do que lembrar do que aconteceu, queremos fazer um chamado à luta e, principalmente, dizer que a periferia não vai se curvar. Assim como Zumbi, mostraremos que o povo negro e pobre também resiste”, disse Wellingta Macedo, organizadora do evento. 
No ano passado, em sua primeira edição, a Marcha da Periferia teve como tema “Pelos amarildos, da Copa eu abro mão” e se contrapôs à violência e a criminalização policial nas periferias. 
A marcha este ano vai na mesma linha e ganha ainda mais força depois do que aconteceu em Belém. Temas como a criminalização da pobreza, o fim da guerra às drogas e a desmilitarização da polícia militar também serão abordados. “A PM é resquício da Ditadura Militar e já provou que não serve aos trabalhadores e à juventude de Belém, do Pará e do Brasil”, explicou Wellingta.




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