Na última quarta-feira (05/11) Belém amanheceu contando seus mortos. O assassinato do Cabo Figueiredo (Rotam) desencadeou uma onda de violência que culminou no assassinato de, pelo menos, 10 pessoas. Foram trabalhadores, jovens, negros moradores da periferia da cidade. Assassinados pela polícia porque cometeram o crime de serem pobres. Para se solidarizar com as famílias das vítimas e exigir a apuração e punição dos responsáveis pela chacina, moradores de vários bairros de Belém e organizações sociais promoveram várias manifestações.

Apesar da tentativa do governador Simão Jatene (PSDB) de dizer que eram só boatos, de jogar a responsabilidade para a população, e apesar dos meios de comunicação comprarem o discurso oficial, os moradores da Terra Firme, do Guamá, Jurunas e tantos outros bairros sabem quem são os verdadeiros responsáveis. O que acontece é fruto da falta de investimentos em políticas de segurança, educação, esporte, lazer e cultura. O PSDB, de Jatene e Zenaldo, mancha mais uma vez o amarelo de sua bandeira com o vermelho do sangue de inocentes.
“Meu neto era uma criança. Ele trabalhava e queria fazer uma faculdade, ter uma família. Por que fizeram essa maldade com ele?” perguntava inconformada dona Maria Auxiliadora, avó de Eduardo, adolescente de 16 anos, assassinado na última quarta-feira.
Violência policial tem cor, idade e classe social
Os trabalhadores duvidam dos números oficiais porque sabem da violência, repressão e opressão que a PM impõe diariamente na periferia. E os dados não negam. O 8º anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela que a polícia brasileira é a das que mais mata no mundo. De acordo com o levantamento, a polícia matou no país uma média de seis pessoas por dia entre 2009 e 2013. Foram 11.197 mortos pela polícia nos últimos cinco anos. As mortes têm cor, idade e classe. De acordo com os dados da Anistia Internacional, em 2012, 77% dos jovens entre 15 e 29 anos assassinados são negros.

O vereador Cleber Rabelo (PSTU) esteve presente no ato e lembrou que casos semelhantes a esse já aconteceram, como em novembro de 2011, quando o militar Rosivan Moraes Almeida assassinou seis adolescentes no distrito de Icoaraci. Rabelo também lembrou que a população pode apostar em vários mecanismos para exigir a apuração do caso, mas que a solução passa pela organização dos trabalhadores e das trabalhadoras para a luta. “A cada dia, nós morremos um pouco junto aos nossos camaradas e familiares que tombam vítimas desse Estado. E em memória deles, devemos exigir a investigação e a punição dos responsáveis. Mas, atenção: eu sou operário da construção civil, hoje estou vereador e posso dizer a vocês, sem medo de errar: não confiem na Câmara Municipal, nem na Assembleia Legislativa! Várias CPI’s são feitas e acabam em pizza, como a da ALEPA (...) O destino das nossas vidas, nós traçamos nas lutas. Só com mobilização e pressão conseguiremos as vitórias!”, disse.
Marcha da Periferia: um convite à resistência

No ano passado, em sua primeira edição, a Marcha da Periferia teve como tema “Pelos amarildos, da Copa eu abro mão” e se contrapôs à violência e a criminalização policial nas periferias.
A marcha este ano vai na mesma linha e ganha ainda mais força depois do que aconteceu em Belém. Temas como a criminalização da pobreza, o fim da guerra às drogas e a desmilitarização da polícia militar também serão abordados. “A PM é resquício da Ditadura Militar e já provou que não serve aos trabalhadores e à juventude de Belém, do Pará e do Brasil”, explicou Wellingta.
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