18 de junho de 2014

Frente de Esquerda está ameaçada no Pará

* Carta aberta ao Psol e ao conjunto dos movimentos sociais combativos paraenses

Companheiros (as),
Há um ano a situação política nacional passava por profundas transformações. O ascenso do movimento de massas, que questionou o atual sistema político através da indignação popular com o caos nos serviços públicos, com as desigualdades e injustiças sociais que se manifestou de forma mais evidente em contraste com os absurdos gastos da Copa e com a corrupção endêmica impulsionada pelos grandes partidos, empresas e oligarquias regionais, impactou fortemente a consciência da classe trabalhadora brasileira.
Foi a situação política aberta pelas jornadas de junho que possibilitou a ocorrência das poderosas greves quem tem polarizado a sociedade este ano, a exemplo dos garis do RJ e dos metroviários de SP. As pesquisas de opinião tem apontado também que os reflexos de junho devem se fazer sentir no processo eleitoral, através de dados que indicam a queda nas intenções de voto dos principais candidatos à presidência e através do aumento na quantidade de indecisos e dos que pretendem votar em branco ou nulo. As massas questionam e desconfiam dos candidatos dos partidos majoritários que há anos se revezam no poder, mas que na prática representam o mais do mesmo.
Este cenário obviamente que se expressa aqui no Pará, porém com algumas terríveis particularidades. A grande mídia e o poder econômico já trabalham no sentido de fabricar uma falsa polarização entre Jatene (PSDB, PPS, PSC, etc.) e Helder (PMDB, DEM, PT, PCdoB, etc.). Estes dois blocos governam o nosso estado desde a década 80 e são os responsáveis diretos pelos péssimos serviços de saúde, educação, segurança, saneamento, moradia e transporte público que afligem o povo. Além disso, são responsáveis pelo fato de o Pará liderar o vergonhoso ranking do trabalho escravo no país, com 26,08% do total de registros deste tipo de trabalho degradante no Brasil. A cidade de Melgaço, na ilha do Marajó, tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano do país, com uma taxa de analfabetismo de mais de 50%. Curralinho também lidera a vergonhosa estatística de município com o menor PIB per capita do país.
Enquanto isso, o agronegócio e as grandes mineradoras continuam lucrando bilhões às custas da exploração de nosso povo, de nossas riquezas e da destruição do meio-ambiente. Os grandes empreendimentos tem trazido mais problemas sociais do que bem-estar para a região. Basta olharmos para o caos que vive Altamira com a construção da Usina de Belo Monte. Há um absurdo processo de crescimento da violência, da inflação e da precarização da infraestrutura urbana no município que recebe os maiores investimentos do Programa de Aceleração de Crescimento (de creca de R$ 30 bilhões). O Pará poderá ser o maior exportador de energia do país, mas nós pagamos uma das tarifas mais caras do e sequer a energia chega para todos.
Para mudar a vida dos trabalhadores e atender às demandas dos movimentos sociais é preciso construir uma alternativa de governo que combata a falsa polarização destes dois blocos dominantes.
Neste sentido, há alguns meses estamos conversando com a direção do PSOL no sentido de avançar na construção de uma Frente de Esquerda no Pará, porém, nas últimas semanas, lamentavelmente a direção do PSOL tem adotado uma postura hegemonista nas negociações, ao negar um espaço justo ao PSTU na conformação da chapa majoritária, com a negativa que o PSTU indique a candidatura do Senado unitário da Frente de Esquerda. Não temos acordo em aderir às candidaturas majoritárias do PSOL. Queremos construir a Frente de acordo com o peso político e social de cada partido. Nosso partido inclusive já abriu mão da candidatura à vice-governador (a) no sentido de sinalizar com o acordo em relação à candidatura unitária da Frente ao Senado, mesmo diante de uma mudança de candidato à governador por parte do PSOL que optou por não lançar suas principais figuras públicas à disputa majoritária. Achamos que os critérios adotados em estados como SP, MG, RS e CE, pelo menos, na conformação da Frente também devem se dar aqui no Pará.
Nestes estados, foi fechada a Frente com o PSOL indicando a candidatura ao governo e o PSTU o Senado unitário da Frente.
O PSTU, ao decidir por não lançar candidatura própria ao governo do Estado e defender a Frente de Esquerda, o faz exatamente por entender que a classe trabalhadora e os movimentos sociais de nosso estado necessitam de uma alternativa de esquerda, da classe trabalhadora e socialista unificada, que possa ter melhores condições de romper a falsa polarização entre os dois blocos burgueses dominantes, contudo, somos um partido próprio que necessita de espaço para apresentar suas candidaturas, sua legenda e defender um programa socialista para o Pará e para o Brasil.  
Nos mantemos firmes na defesa da construção de uma verdadeira Frente de Esquerda. O PSTU reafirma o chamado ao PSOL, às organizações políticas de esquerda e aos movimentos sociais para a construção de um pólo alternativo nestas eleições, um pólo classista e socialista, com respeito ao peso social e político das organizações que formem a Frente, sem alianças com partidos burgueses e sem financiamento patronal de campanha, uma frente que tenha coragem de enfrentar o grande capital e as oligarquias que mandam em nosso Estado e apresente um programa que parta das reivindicações mais imediatas da população, como a reforma agrária, mais investimentos nas áreas sociais, a reestatização da Celpa, aumento geral de salários, incentivo à agricultura familiar para baratear o preço dos alimentos, reforma urbana nas cidades, sobretaxação das grandes empresas e fortunas e um plano de obras públicas para gerar emprego, renda e ampliar a estrutura de serviços sociais.

Com a palavra, os companheiros (as) da direção do PSOL. 

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