A ideia de ter um novo governo
petista no comando do país não assusta a burguesia. É uma questão de
preferência. Pois bem, Dilma e o PT não representam a candidatura predileta
da burguesia internacional e brasileira. Porém, só se pode preferir quando há
mais de uma opção. É o caso deste ano -como outros-, quando o cardápio da
burguesia é amplo: Dilma, Marina e Aécio são os principais candidatos.
A
questão vai além. Não podemos explicar de forma tão simples. O PT, vindo das
entranhas do proletariado, mesmo que mudado, não é o partido genuíno da
burguesia. Mesmo que cumpra seu papel no interesse dela, igual e até
melhor que os tucanos e Marinistas, o instinto de classe às vezes fala mais
alto que a consciência. Isto é explicado pela euforia na bolsa de valores após
os dados de rejeição de Dilma e subida de Marina. O índice IBOVESPA, da bolsa
de São Paulo, aumentou 22,77% nos últimos cinco meses, quando as pesquisas
eleitorais apontaram queda na preferência por Dilma. É o mercado financeiro
alegrando-se com o possível retorno de um genuíno partido burguês ao governo.
Marina, vinda dos movimentos sociais, virou a casaca com menos maquiagem
que o Partido dos Trabalhadores e CUT. Com um discurso ambientalista, saiu do
PT em 2008, com grande apoio de Guilherme Leal, dono da Natura. Cria da
metamorfose do PT, apenas resolveu assumir o time dos empresários mais
publicamente, entrando ao PV, conquistando 20 milhões de votos em 2010. O apoio
da burguesia, como da herdeira do Itaú e do dono da Natura, não é exclusivo de
Marina. Odebrecht, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e outras empreiteiras
doaram milhões às campanhas de Dilma e Aécio. Frigoríficos, como a JBS, também
foram generosos aos dois. O que faz Marina, assim como Aécio, serem preferíveis
a Dilma não é sua personalidade ou os interesses a que representam. A euforia
no mercado financeiro é a alegria que a burguesia tem de ver seus legítimos
filhos no controle político mais direto.
Marina tem a
mesma origem de Lula, mas PSB, Rede, Leal e todos que a rodeiam não; mais que
isso. A burguesia "mostra certa imaturidade" ao "não
reconhecer" o belo papel cumprido por Lula e Dilma. Como Lula disse,
"nunca na história deste país os banqueiros lucraram tanto".
O otimismo dos bancos

Lula tem razão.
O lucro da Itausa holding, que controla o banco Itaú, foi de R$ 1,794 bilhão no
segundo trimestre. No primeiro semestre, o lucro do Itaú foi o segundo recorde na
história dos bancos: R$ 7,1 bilhões, atrás apenas dos R$ 7,2 bilhões
conquistados durante o mesmo período em 2013 sob o governo Dilma. No primeiro
semestre deste ano, Santander, Itaú e Bradesco lucraram juntos o valor de R$ 19,702 bilhões, mas demitiram
3.686 bancários e bancárias no mesmo período. Enquanto isso, 60% dos brasileiros
seguem endividados.
Então poderíamos encarar a
reação do sistema financeiro como contraditória? Não. O que há de contraditório
é um partido de origem popular e operária não estatizar o sistema financeiro,
mas sim permitir que bancos tenham rendimento duas vezes maior aqui do que na
Europa e EUA. O contraditório é o partido que se diz dos trabalhadores permitir
o parasitismo financeiro e a remessa de lucros ao exterior, enquanto as
demissões aumentam, o preço dos alimentos sobe e os trabalhadores se endividam
mais, sofrendo com juros abusivos. Os bancos deram os cargos e benesses para a
burocracia do PT governar. Pedem em contrapartida, maiores lucros, ou seja,
arrocho salarial e demissões. Conseguiram muito. Então por que os especuladores
não apostam todas suas fichas no PT de Dilma?
O que podemos
concluir é que há um forte temor da burguesia pelo proletariado, mesmo que este
seja domesticado como foi Lula, Genoíno e milhares de burocratas sindicais e
políticos pelo país. A força da burocracia estatal não foi suficiente para
paralisar a luta de classes e o antagonismo mortal entre o proletariado e a
burguesia, aumentou. Não foi possível porque a burguesia vive da exploração do
proletariado. O medo de que o proletariado tome consciência da sua força é o
que a faz querer evitar, se possível, que qualquer elemento ou organização
operária assuma os assuntos políticos do seu Estado. A ameaça da revolução é
constante, conforme vimos nos primeiros 14 anos do século XXI. A burguesia teme
o proletariado porque sabe que ele é o seu filho bastardo, aquele o qual a faz
viver, mas a fará morrer quando assim quiser. Este é o motivo central pelo qual
podemos encarar apenas como um temor selvagem a predileção da burguesia por
Marina e Aécio (especialmente aquela ligada ao capital financeiro), o que fez
as ações da Petrobras e Banco do Brasil dispararem na bolsa de valores nos
últimos meses.
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