8 de setembro de 2014

Dilma, Marina e Aécio. Qual a preferência da burguesia?

 A ideia de ter um novo governo petista no comando do país não assusta a burguesia. É uma questão de preferência. Pois bem, Dilma e o PT não representam a candidatura predileta da burguesia internacional e brasileira. Porém, só se pode preferir quando há mais de uma opção. É o caso deste ano -como outros-, quando o cardápio da burguesia é amplo: Dilma, Marina e Aécio são os principais candidatos.

A questão vai além. Não podemos explicar de forma tão simples. O PT, vindo das entranhas do proletariado, mesmo que mudado, não é o partido genuíno da burguesia. Mesmo que cumpra seu papel no interesse dela, igual e até melhor que os tucanos e Marinistas, o instinto de classe às vezes fala mais alto que a consciência. Isto é explicado pela euforia na bolsa de valores após os dados de rejeição de Dilma e subida de Marina. O índice IBOVESPA, da bolsa de São Paulo, aumentou 22,77% nos últimos cinco meses, quando as pesquisas eleitorais apontaram queda na preferência por Dilma. É o mercado financeiro alegrando-se com o possível retorno de um genuíno partido burguês ao governo.

Marina, vinda dos movimentos sociais, virou a casaca com menos maquiagem que o Partido dos Trabalhadores e CUT. Com um discurso ambientalista, saiu do PT em 2008, com grande apoio de Guilherme Leal, dono da Natura. Cria da metamorfose do PT, apenas resolveu assumir o time dos empresários mais publicamente, entrando ao PV, conquistando 20 milhões de votos em 2010. O apoio da burguesia, como da herdeira do Itaú e do dono da Natura, não é exclusivo de Marina. Odebrecht, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e outras empreiteiras doaram milhões às campanhas de Dilma e Aécio. Frigoríficos, como a JBS, também foram generosos aos dois. O que faz Marina, assim como Aécio, serem preferíveis a Dilma não é sua personalidade ou os interesses a que representam. A euforia no mercado financeiro é a alegria que a burguesia tem de ver seus legítimos filhos no controle político mais direto.
                                                      
Marina tem a mesma origem de Lula, mas PSB, Rede, Leal e todos que a rodeiam não; mais que isso. A burguesia "mostra certa imaturidade" ao "não reconhecer" o belo papel cumprido por Lula e Dilma. Como Lula disse, "nunca na história deste país os banqueiros lucraram tanto".

O otimismo dos bancos
Certo analista do Banco Santander animou-se e endereçou cartas aos clientes contendo uma previsão otimista na economia em caso de derrota de Dilma. O site do PT fez questão de postar a resposta de Lula: "O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou que o analista do Santander, que escreveu o panfleto contra a política econômica, não entende nada de Brasil, em discurso na 14ª Plenária Nacional da Central Única dos Trabalhadores, em Guarulhos, na noite desta segunda-feira (28). Para Lula, é difícil entender como esse analista chegou a um cargo de chefia num banco que lucra mais no Brasil do que em qualquer outro país."

Lula tem razão. O lucro da Itausa holding, que controla o banco Itaú, foi de R$ 1,794 bilhão no segundo trimestre. No primeiro semestre, o lucro do Itaú foi o segundo recorde na história dos bancos: R$ 7,1 bilhões, atrás apenas dos R$ 7,2 bilhões conquistados durante o mesmo período em 2013 sob o governo Dilma. No primeiro semestre deste ano, Santander, Itaú e Bradesco lucraram juntos o valor de R$ 19,702 bilhões, mas demitiram 3.686 bancários e bancárias no mesmo período. Enquanto isso, 60% dos brasileiros seguem endividados.  

Então poderíamos encarar a reação do sistema financeiro como contraditória? Não. O que há de contraditório é um partido de origem popular e operária não estatizar o sistema financeiro, mas sim permitir que bancos tenham rendimento duas vezes maior aqui do que na Europa e EUA. O contraditório é o partido que se diz dos trabalhadores permitir o parasitismo financeiro e a remessa de lucros ao exterior, enquanto as demissões aumentam, o preço dos alimentos sobe e os trabalhadores se endividam mais, sofrendo com juros abusivos. Os bancos deram os cargos e benesses para a burocracia do PT governar. Pedem em contrapartida, maiores lucros, ou seja, arrocho salarial e demissões. Conseguiram muito. Então por que os especuladores não apostam todas suas fichas no PT de Dilma?
                
O que podemos concluir é que há um forte temor da burguesia pelo proletariado, mesmo que este seja domesticado como foi Lula, Genoíno e milhares de burocratas sindicais e políticos pelo país. A força da burocracia estatal não foi suficiente para paralisar a luta de classes e o antagonismo mortal entre o proletariado e a burguesia, aumentou. Não foi possível porque a burguesia vive da exploração do proletariado. O medo de que o proletariado tome consciência da sua força é o que a faz querer evitar, se possível, que qualquer elemento ou organização operária assuma os assuntos políticos do seu Estado. A ameaça da revolução é constante, conforme vimos nos primeiros 14 anos do século XXI. A burguesia teme o proletariado porque sabe que ele é o seu filho bastardo, aquele o qual a faz viver, mas a fará morrer quando assim quiser. Este é o motivo central pelo qual podemos encarar apenas como um temor selvagem a predileção da burguesia por Marina e Aécio (especialmente aquela ligada ao capital financeiro), o que fez as ações da Petrobras e Banco do Brasil dispararem na bolsa de valores nos últimos meses.

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