25 de setembro de 2014

Reforma urbana e Reforma agrária já!


REFORMA AGRÁRIA E PRODUÇÃO RURAL
A concentraçao de terras, no Brasil é a segunda pior do mundo, onde o grande produtor rural domina mais de 70% da terra. Por isso, mais da metade da sua população rural, que conta com 30 milhões de pessoas, é composta de pobres e miseráveis.
Durante a campanha do PT, em 2002, Lula afirmou que seria realizado um milhão de assentamentos até o final do mandato de quatro anos. Ou seja, 250 mil assentamentos por ano. Apesar de haver muita esperança do povo brasileiro que o governo do PT garantiria justiça no campo, Lula e Dilma seguiram a obra de FHC, privilegiando o agronegócio moderno, latifundiário e multinacional em detrimento dos milhões de trabalhadores rurais sem–terra.
O governo Dilma conseguiu ser pior que FHC no que se trata de reforma agrária. O censo agropecuário revela que dos 850 milhões de hectares de terras no Brasil, apenas a metade (437 milhões de hectares) está cadastrada. Além disso, 120 milhões de hectares foram declarados improdutivos pelos próprios “donos” (ILAESE, 2013).
Apesar da exigência da constituição na prioridade da titulação para populações indígenas, quilombolas e populações tradicionais, esta não é a realidade. Segundo dados do a Comissão Pró-índio de São Paulo, até 2014 foram titulados somente 216 quilombos, em todo Brasil, o que representa cerca de 7% das 3.000 comunidades estimadas, com mais de mil processos abertos aguardando a titulação. Os dados também revelam que o governo Lula, nos seus 2 mandatos, titulou 12 quilombos, Já na gestão de Dilma, até junho de 2014, foram tituladas, parcialmente, apenas quatro terras.1
As áreas de quilombos, indígenas, populações tradicionais e assentamentos estão sendo esquecidas. Dos mais de 500 processos quilombolas que solicitam regularização fundiária, apenas 20 territórios quilombolas foram regularizados. Além de alguns casos que estão encontrando dificuldade em permanecer com sua condição, como por exemplo, a Associação de Quilombos Ilhas de Abaetetuba (Arquia) que foi cobrado o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) no valor de R$ 15 milhões (Brasil de Fato, 2012).
No Pará, o ITERPA é o órgão do Estado responsável pela regularização de terras como parte fundamental para garantir a produção agropecuária. No entanto, há uma priorização na titulação de terras para o agronegócio, como exemplo, a titulação em Paragominas com o projeto de “municípios verde”, para garantir a expansão das terras derrubadas pelos madeireiros para a produção da pecuária semi-intensiva.
No relatório “Pará: Estado de Conflito” demonstra o resultado de um cruzamento de dados sobre o setor madeireiro, a máfia da grilagem, a violência no campo e o avanço da pecuária no estado do Pará, o maior produtor e exportador de madeira da Amazônia Brasileira. O texto revela como estes fatores, relacionados entre si, tornaram o Pará responsável por cerca de 1/3 do total desmatado em toda a Amazônia Legal e palco de escandalosas denúncias de desrespeito aos direitos humanos. 2
As lutas no campo tem demonstrado que não há como conciliar agronegócio e reforma agrária. No quadro mais geral da estrutura fundiária, mesmo com a criação dos projetos de assentamentos, não houve alterações na concentração da terra (BERGAMASCO e FERRANTE, 2005, p. 76). Segundo Feliciano (2005), apesar do aumento no número de assentamentos, ampliou-se também o número de latifúndios.

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Conflitos rurais
O relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), “Conflitos no Campo 2010, revelou que 34 trabalhadores rurais foram assassinados no país em 2010, isto é, um morto a cada 10 dias no último ano do governo Lula.
A região Amazônica é onde há a maior parte dos conflitos por terra. Representa 97% da área envolvida em conflito no Brasil. Concentraram 58,3% dos assassinatos (21 de 36); 84,4% das tentativas de homicídio (65 de 77); 77,4% das ameaças de morte (229 de 296); 62,6% dos presos (62 de 99); 63,6% dos registros de agressão (56 de 88); e 67% dos casos de trabalho escravo. O Pará é o segundo estado com maiores ocorrências de conflito rurais, perdendo apenas para Rondônia. A expansão da indústria extrativa mineral é apontada como um dos principais responsáveis pelas ocorrências, além do setor madeireiro e da pecuária. 3
O Agronegócio versus reforma agrária
O agronegócio domina todo o Complexo Agroindustrial brasileiro, desde os insumos e maquinário, da produção agropecuaria e a agroindústria até as grandes redes de supermercado. Em 2012, foi o setor mais dinâmico da economia e representou 33% do PIB do Brasil, gerou 37% dos empregos e foi responsável por 42% das exportações brasileiras. Garantiu sozinho o superávit da balança comercial brasileira com o exterior (ILAESE, 2013).
Resultado da união dos grandes fazendeiros brasileiros, com os banqueiros e as grandes corporações transnacionais, o agronegócio, tornou-se a perfeita simbiose entre modernização da agricultura capitalista e o latifúndio. Cerca de 30 empresas dominam todo o Complexo Agroindustrial brasileiro e mais de 70% destas empresas são multinacionais.
Atualmente, o Brasil é o 2º produtor mundial de soja, sendo a família de Blario Maggi (PR/MT) a maior produtora do país, e entre 2003 e 2004 foi responsável pela 50% de desmatamento na Amazônia. A produção da soja vem ampliando com a produtividade da cultura, e principalmente, pela ampliação da área de plantio. Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (IBGE, 2014), em 2013 a produção de grãos bateu novo recorde puxado pela soja com 23,8% de crescimento, o que não ocorria desde 2003, com o aumento de área em 10,8% somente para o plantio da produção de grãos. Isto tem significado uma restrição para de áreas plantadas para as culturas de subsistência (feijão, milho, arroz, mandioca).
No Pará, o agronegócio tem grande destaque no cenário da agropecuária brasileira. Este setor apresenta o segundo maior PIB, perdendo apenas para extração de minérios. O agronegócio paraense tem a participação superior a 30% no PIB estadual. Conforme a publicação na revista Pará Rural em matéria veiculada sob o título “Agropecuária, atividade dinamiza a economia estadual”, a área agrícola plantada em 2012 está estimada em torno 3.000.000 de hectares, com destaque pala as lavouras de cacau, dendê, grãos de milho, arroz, feijão e mandioca – florestas plantadas, coco, cupuaçu, abacaxi, citros, pupunha, pimenta-do-reino, cana de açúcar entre outros produtos.
Quanto à pecuária, cerca de 20 milhões de cabeças no efetivo bovídeo do estado do Pará, ocupa uma área de pastagem de aproximadamente de 27 milhões de hectares. O estado possui o 4º maior rebanho do país e é o maior produtor do norte e nordeste de grãos e fruticultura (Centro Rural, Adepará, 2013).
Este modelo destrói a natureza, pois a monocultura vai ocupando a totalidade do território e depois de destruir boa parte do cerrado, e investe contra a Amazônia. O Brasil já é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e segundo mercado das sementes transgênica.
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Propostas iniciais:
1. Regularização imediata dos acampamentos rurais no Estado, que sobrevivem sem estrutura e assistência do governo;
2. Desapropriação imediata das áreas para a reforma agrária que tiveram ou tem trabalho escravo;
3. Criação de assentamentos planejados para receber infra-estruturas;
4. Regularização imediata dos quilombos mapeados pela pesquisa da UFPA (Mapa dos Quilombos do Pará);
5. O fim da criminalização da luta pela terra e a impunidade aos assassinos de trabalhadores rurais. Exigimos a prisão dos jagunços e seus mandantes, que devem também ter suas propriedades confiscadas para fins de reforma agrária;
6. Congelamento do preço dos alimentos, que hoje estão muito caros porque são determinados pelo mercado mundial e pela fome de lucros das grandes empresas.
7. Investimento para assistência e autonomia das mulheres camponesas: saúde, educação e creche nos assentamentos;
8. Estatização das empresas do agronegócio, sem indenização, que funcione em regime familiar, sob controle dos trabalhadores e das organizações sociais do campo e incorpore, junto com suas terras, a um Plano de Reforma Agrária, para produzir alimentos sadios, sem agrotóxicos, para a população.
9. Exigir do governo federal um plano nacional de produção de alimentos para acabar com a fome, diversificado, sem agrotóxicos, a preço de custo, produzido em comunhão entre grandes agroindústrias estatais, funcionando sob controle dos trabalhadores agrícolas e a pequenos camponeses, organizados em cooperativas.
10. Investimento do plano safra para a agricultura familiar e não para o agronegócio
11. Regularização imediata das comunidades periurbanas, com investimento para as infra-estrutura de produção e moradia;

MORADIA E REFORMA URBANA
A urbanização no Brasil e na Amazônia
O processo de urbanização brasileiro se deu a partir da industrialização deste país, mais intensa a partir da segunda metade do século XX, no qual ocorre a virada de um país essencialmente rural para um país urbano. Essa urbanização foi construída em base ao fluxo migratório, essencial para o desenvolvimento das forças produtivas e consolidação do capitalismo industrial no país. Porém, provocou conseqüências muito destrutivas para a maioria dos trabalhadores. A modernização assumida pelo Estado brasileiro foi sob a lógica de crescimento econômico e sofisticação para poucos e não de desenvolvimento para todos.
Segundo Mota et al, o desenvolvimentismo no Brasil foi resultado de um processo de modernização conservadora que consolidou a industrialização e o crescimento econômico, mas que não redistribuiu os resultados desta expansão com a maioria da população trabalhadora.
Este tipo de urbanização aprofunda as desigualdades entre as classes sociais, entre as distintas regiões brasileiras e entre o campo e a cidade. Para poucos, o fácil acesso aos serviços públicos, lazer, cultura, facilidade no transporte e condições excelentes de moradia. Para a maioria, arrastada cada vez mais para a periferia, a negligência ou total ausência do Estado e condições de vida e moradia semelhantes ao início do século.
Na Amazônia, o processo de urbanização foi ainda mais tardio e acelerado. E, por isso também, mais segregador. As cidades começam a se formar na região principalmente a partir do ciclo da borracha, como Belém, que tem um projeto urbano inspirado em Paris. Porém, o boom urbano explode a partir da ditadura militar com os grandes projetos para a região além do incentivo à migração para a região, naquela época considerada como uma "terra sem homens". Para se ter uma idéia deste período, de uma população eminentemente rural (70,36%, em1950), a região tornou-se eminentemente urbana (69,83%, em 2000).
Por meio de mecanismos fiscais e creditícios, o Estado subsidiou o fluxo de capital do Sudeste e do exterior para a Amazônia, por meio de bancos oficiais, especialmente o BASA. Ao mesmo tempo, induziu a migração para a região através de diferentes mecanismos e com o intuito de formar uma mão-de-obra para os projetos aqui desenvolvidos (BECKER, 1998).
Neste contexto, são valorizadas as construções de rodovias, estradas e portos, para a circulação de pessoas e de mercadorias, a construção de uma malha de telecomunicações e de produção de energia para dar sustentação a este acelerado processo e atrair cada vez mais empresas multinacionais e imigrantes. Pouca atenção é dada às conseqüências urbanas do intenso fluxo migratório e da exploração dos recursos naturais, quase nada é investido em saneamento, serviços e obras públicas de moradia para a população local. Esta é a origem do caos urbano na Amazônia atual, no qual o Pará é um dos Estados mais afetados.
A luta em defesa da moradia e pelo direito à cidade
É neste contexto que a partir principalmente da década de 1980, com o ascenso operário, que os movimentos sociais urbanos começam a se organizar para lutar por um outro projeto de cidade. Assim, o marco legal da reforma urbana tem sua base na Constituição federal de 1988, cujo capítulo que trata da política urbana define a função social da propriedade e da cidade e reconhece a prevalência do interesse coletivo sobre o individual. A emenda constitucional n. 26, de 2000 garante a moradia como parte dos direitos sociais e humanos e o Estatuto da Cidade, em 2001, regulamenta os artigos da Constituição Federal e define os instrumentos urbanísticos fundamentais para o cumprimento do direito à cidade. (Santos e Diniz, 2012).
Apesar destas conquistas na lei, a realidade pouco mudou. O Brasil possui uma das legislações mais avançadas do mundo em relação à questão urbana, porém, apesar da "função social da propriedade" assegurada na Constituição, ainda presenciamos desocupações como a do Pinheirinho em São José dos campos (SP) em 2012, onde mais de 8 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas, sob violência e repressão do Estado, em nome da propriedade privada de um único homem, milionário e sonegador de impostos, propriedade esta que até hoje está sem função social.
O déficit habitacional
O deficit habitacional no Pará está acima da média nacional. De acordo com dados do IPEA, o deficit no Brasil em 2012 alcançou 11,3%. Dados do IDESP mostram um deficit de 8,3% no estado neste mesmo período, o que significa mais de 240 mil moradias.
O cálculo do deficit habitacional leva em consideração quatro elementos: os domicílios ditos improvisados, a coabitação, o ônus excessivo com aluguel e o adensamento excessivo (muitas pessoas morando em uma mesma casa).
Na maioria das metrópoles brasileiras, o componente que mais eleva o deficit habitacional é o ônus excessivo com aluguel, resultado da inflação cada vez mais elevada e da baixa renda da maioria dos trabalhadores. No Pará, devido a ainda grande miséria e elevado índice de subemprego e empregos informais com baixa renda, o componente principal ainda é a coabitação e os domicílios precários. Porém, na região metropolitana de Belém, vemos uma tendência de crescimento nos últimos anos do gasto excessivo com aluguel. Uma família se enquadra neste item quando ganha até 3 salários mínimos e gasta mais de 30% de sua renda com aluguel.
Este panorama explica a razão de que nos últimos anos, apesar de algumas políticas de construção de moradias pelo governo federal como o Minha Casa Minha Vida ou políticas do governo do Estado como o Cheque Moradia, o deficit não reduz significativamente ou às vezes até se eleva. Pois à medida que se constroem mais casas, surgem novos sem-teto, empurrados a esta condição devido ao abusivo valor dos alugueis.
Por isso, não adianta só construir casas, é necessário ter um salário mínimo digno, emprego formal e valores sociais dos alugueis, até que todos possam ter sua casa própria. Senão, não rompemos o ciclo vicioso da falta de moradias.
Outro ponto importante para destacar sobre o deficit habitacional é que as estatísticas atuais não levam em consideração as debilidades estruturais  de vários domicílios, que se localizam em regiões da cidade sem nenhuma ou com pouquíssima infra-estrutura, como saneamento básico e energia elétrica. Se levarmos este item em consideração, o deficit no Pará aumenta bastante, pois temos um dos Estados com menor índice de acesso ao saneamento básico.
Dados do Governo do Estado do Pará mostram que as regiões do Marajó, Xingu, Tapajós, Rio Capim, Rio Caeté, Lago de Tucuruí e Araguaia tem índices entre 80 a 100% de carência de infra-estrutura nos municípios. (PEHIS, 2007).
É necessário ter moradia e acesso a cidade
O principal eixo do estatuto da cidade é a função social da terra e o direito a cidade. Nenhum deles respeitado pelos governos. Precisamos ter mais moradias, mas além disso ter acesso a cidade, aos serviços públicos. Uma das principais políticas dos governos é a construção de conjuntos habitacionais em regiões afastadas dos centros urbanos e distante dos principais serviços públicos. Não queremos que os trabalhadores sejam expulsos dos centros urbanos, queremos os melhores centros de cultura, lazer, hospitais de referência, universidades e escolas técnicas ao alcance de toda a população trabalhadora.
Por isso, defendemos:
- Aumento da renda e criação de empregos com um plano de construção de moradias, elaborado pela COHAB, que vise sanar o deficit habitacional do Estado.
-Congelamento do preço dos alugueis na região metropolitana.
- Estruturação dos bairros e municípios periféricos com saneamento básico, energia elétrica e transporte.
- Reforma agrária e reforma urbana, com desapropriação sem indenização dos prédios e terras sem função social.


Referências
BECKER, B. K. Amazônia. São Paulo: Ática, 1990.
MOTA, Ana Elisabete; AMARAL, Ângela Santana do & PERUZZO, Juliane Feix. "O novo desenvolvimentismo e as políticas sociais na América Latina". In: MOTA, Ana Elisabete (org.). As ideologias da contrareforma e o Serviço Social. Recife, Ed. Universitária da UFPE, 2010, p. 55.
PARÁ, Governo do Estado do. Plano Estadual de Habitação de Interesse Social. Diagnóstico habitacional. Belém. 2009.
PARÁ, INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, SOCIAL E AMBIENTAL DO PARÁ. Déficit habitacional: aspectos conceituais e resultados do período de 2007 a 2012. Belém: IDESP, 2014.

SANTOS, Mauricléia Soares & DINIZ, Tânia Maria Ramos de Godoi. "A Reforma urbana no contexto da sociedade de classes: limites e possibilidades". In: SANTANA, Joana Valente; HOLANDA, Ana Carolina Gomes; MOURA, Aldebaran do Socorro Farias de (orgs.). A questão da habitação em municípios periurbanos na Amazônia. - Belém, ed.ufpa, 2012.

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