25 de julho de 2013

Uma Jornada Mundial em meio as lutas: juventude sonha com um novo mundo

Por João Paulo de Belém do PA, militante do PSTU.

Jornada Mundial da Juventude

A mídia brasileira estampa notícias; brasileiros de norte a sul do país passam horas ou dias viajando; jovens do mundo inteiro viajam longas distancias para prestigiar um evento internacional: a Jornada Mundial da Juventude. O nome não traz referencia católica nem religiosa e justamente essa deve ter sido a ideia da organização do evento. Em uma situação mundial marcada por fome, miséria social, desemprego e guerras por um lado, e por outro, o luxo, a corrupção e escândalos envolvendo a igreja católica e outras instituições políticas e religiosas, a alta cúpula da igreja se esforça para organizar um evento com a clara intenção de recuperar seus fiéis. Organiza uma campanha para uma juventude que viaja na esperança de outra vida, uma geração cada vez mais sem perspectivas de um futuro melhor que viaja para encontrar na igreja católica a luz do fim do túnel.
A igreja católica e sua história
É nesse contexto que se organiza a JMJ no Brasil. A história da igreja como instituição não é a história que seus fiéis gostariam que tivesse. Apesar do grande esforço de verdadeiros fiéis e sonhadores, que fazem campanhas de caridades e outras ações altruístas, a instituição está marcada pela crueldade e hipocrisia digna para ser consolidado em um Estado (Vaticano), tão corrupto e cínico quanto o Estado brasileiro. A culpa não é de seus fiéis, mas de sua cúpula que se aproveita de sua base para fazer uma igreja marcada de episódios ruins. 
O Vaticano tem sua história manchada por apoiar ditaduras sanguinárias, como ocorreu no Brasil, no apoio e construção do golpe militar de 64 com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Somente após se defrontar com a perda de fiéis, por se manter um braço do regime ditatorial, a igreja mudou sua linha em parte e meio que partiu pra ajudar na resistência à ditadura. Bispos e padres se dividiram entre a ajuda e a delação da resistência. 
Sua alta cúpula sempre se manteve agente do regime, enquanto seus fiéis lutavam e resistiam. No restante da América Latina não foi diferente. Na Argentina a relação com a ditadura foi tão forte que os salários dos bispos, arcebispos e auxiliares eram pagas pelo Estado- garantido por Videla. Se formos enumerar aqui todos os casos de barbaridades político-sociais do Vaticano, além dos escândalos de pedofilia, homofobia, machismo e racismo, o artigo se tornará um livro.

Figura 1: Papa Pio XII com Hitler

Mas há algo de sua história que jamais pode ser esquecido: o apoio às ditaduras fascistas de Mussolini, Hitler e Franco. Em 1929, a igreja selou acordo com Mussolini no chamado Tratado de Latrão, estabelecendo um marco histórico para a igreja. O jornal inglês The Guardian publicou recentemente uma reportagem em que afirma que o Vaticano construiu um império imobiliário a partir de valores pagos por Benito Mussolini em troca do reconhecimento da Igreja Católica a seu regime. A partir de então passou a estabelecer acordos com a reação fascista em outros países, sendo um apoio para grandes genocídios.
Apoiou ditadores como Franco na Espanha e Salazar em Portugal. Na Alemanha, em junho 1933, no chamado acordo de ReichsKonkordat, selou pacto com Hitler. Isso jamais pode ser esquecido. O Vaticano não só passou por cima da religião de seus fiéis, mas matou milhares deles. 
A Igreja e a paz: o passado segue presente
A paz pregada pelo Vaticano não é paz. É a “paz” de Hitler e Mussolini. É a “paz” do caveirão desaparecendo com trabalhadores nos morros. É a “paz” dos mísseis que Bashar Al Assada joga contra os jovens revolucionários e a população Síria. A paz do Vaticano não é a paz dos revolucionários, Cristãos egípcios, protegendo os revolucionários mulçumanos nas preces durante os protestos na Praça Tharir.
 A “paz” da igreja não é a paz do respeito aos homossexuais, é a mesma “paz” que Bolsonaro, Marco Feliciano e Dilma constroem e que gera dezenas de homossexuais feridos e mortos pela violência opressora. O Vaticano repudia o uso da camisinha e de contraceptivos, fechando os olhos para as péssimas condições de vida da população. Defende a criminalização do aborto quando milhares de mulheres pobres morrem em consequência da falta de um tratamento médico para esta questão- sob o governo de Dilma. O seu passado segue presente.
A Igreja não mudou sua história, continua se tornando mais impopular e questionada ao se colocar do lado de governos que acabam com o futuro me milhões de jovens.
Quem é a juventude e quais suas perspectivas em meio a JMJ?
No Brasil, entre 1980 e 2011, as mortes violentas na faixa etária de 14 a 25 anos cresceram 207,8%. Considerando-se somente os homicídios, o crescimento registrado foi de 326%. Em 2011 a cada 100 mil jovens, 53,4 foram assassinados. Taxa maior que o de homicídios totais no mesmo ano: 27,1%(FONTE: Mapa da Violência 2013: Homicídio e Juventude no Brasil,publicado em 18/07/2013 pelo Centro de Estudos Latino-Americanos  ).
Para a juventude negra, a situação é mais grave. O Mapa da Violência 2013 aponta que entre 2002 e 2011 morreram 50.903 jovens brancos e 122.570 jovens negros – uma diferença de aproximadamente 150%. A taxa de suicídios entre jovens de 4,9 em 1996, para 5,1 em 2011.Essa
Os dados da violência no Brasil, a que os jovens estão submetidos, é somente um exemplo de um país cheio de injustiças sociais, onde a juventude é obrigada a se jogar em péssimas condições de trabalho, subemprego e criminalidade. A violência no nosso país está mais presente entre os jovens, pois o país, após 30 anos de “democracia”, teve os serviços  públicos (saúde, educação, saneamento) precarizados por uma série de privatizações, desvios e cortes de verbas. Collor, FHC, Lula e Dilma governaram para os ricos e empresários; à juventude pobre, sobraram empregos precários e sem direitos mínimos, sobraram bolsas migalhas e repressão policial. Essa é a nossa juventude.
Na Europa, a situação não é melhor. A taxa de desemprego entre jovens na Espanha é de 56,2%, enquanto na Grécia a taxa assustadoramente alcança 59,2% de jovens desempregados. Os governos da Europa não pretendem abaixar essa taxa e impõem planos de austeridades demitindo milhares de trabalhadores para salvar banqueiros. Os últimos dados da OIT apontam que taxa de desemprego entre jovens deve atingir, neste ano, 12,6% da população mundial que tem entre 15 e 24 anos. Isso representa cerca de 73,4 milhões de pessoas. Um acréscimo de 3,5 milhões entre 2007 e 2013. Esta taxa continua crescendo e deve alcançar 12,8% de jovens desempregados no mundo em 2019. No ano passado, a taxa de desemprego juvenil mais alta foi registrada no Oriente Médio, onde 28,3 % dos jovens estavam desempregados. As projeções atuais apontam que a cifra pode chegar em 30% em 2018 na região. Não é a toa que na Europa os trabalhadores vão às ruas e no Oriente Médio a juventude derrubou ditaduras e seguem lutando como na Síria.
Ou seja, a juventude que está sendo vanguarda de luta em vários países do mundo é a mesma que sofre com a política de seus governos, é a mesma que não vê perspectivas de um futuro melhor. Sobre o caráter das lutas dos jovens no Brasil, Espanha, Grécia, Síria etc?
A juventude trabalhadora deste mundo está cansada de viver na pobreza enquanto vê na TV imagens de uma vida bela e farta. A grande riqueza de alguns é injusta porque é feita à custa de uma grande maioria de pobres que têm no trabalho, na educação e religião, algumas fontes de inspiração para uma vida melhor. O problema é que estes jovens trabalham muito, mas são demitidos e/ou ganham pouco; não estudam ou estudam mal porque a educação pública de qualidade é negada; e a religião é aproveitada e usurpada por instituições tão sujas quanto aqueles políticos que lhes negam o direito à saúde/educação ou um trabalho decente e bem remunerado. Esse é o motivo de mulheres, judeus, católicos, mulçumanos, negros, jovens e homossexuais estarem ao mesmo tempo saindo às ruas na busca de uma vida melhor.
Instituições religiosas contra as lutas
Para melhorar, a juventude também terá de se livrar das correntes das instituições religiosas. Não significa abandonar a religião, algo tão individual quanto gosto musical, mas abandonar a fé em instituições antidemocráticas que fazem justamente o oposto ao pregado por Cristo: aumentam a pobreza e concentração de renda; mentem, pregam a paz e praticam o genocídio.
A juventude atual não quer desemprego, não quer guerra nem injustiças, não quer a violência urbana. A juventude pobre, estudante e trabalhadora se lançam mundialmente nas ruas para lutar por uma vida melhor. Isso é tudo que não queriam PT, PSDB, Dilma, Alckmin, Assad, Irmãos Castro e todos os governos do mundo apoiados pelo Papa. Os partidos do poder, ligados aos grandes empresários, estão contando com o apoio de instituições religiosas, como a Irmandade Mulçumana no Egito, ou mesmo o Vaticano e as Igrejas Evangélicas no Brasil, para desmobilizar o processo de lutas do mundo inteiro. A juventude terá de notar que  essas instituições têm um caráter ideológico e político e se usam da religiosidade do povo para ajudar os ricos e poderosos a manterem a ordem social que está em xeque.
O sonho de um mundo melhor e socialista
A juventude trabalhadora e lutadora faz mais forte o sonho de um mundo novo, sem exploradores, sem pobreza e fome, com acesso a cultura e lazer. Esse mundo não é possível sob o capitalismo, sob o reinado de ditaduras disfarçadas de democracia. É preciso construir um mundo onde uma pessoa tenha mais valor que objetos. É preciso construir um mundo socialista, na base da mais ampla solidariedade mundial entre as nações socialistas dos trabalhadores.
O PSTU faz parte desse sonho. Propõe-se a construir um partido internacional, a LIT (Liga Internacional dos Trabalhadores). Nosso Partido acredita no socialismo internacional e justamente por isso se propõe a estar nas ruas junto com trabalhadores e estudantes. Por acreditar nos socialismo, nosso partido é aberto para cristão, evangélicos, umbandistas, ateus e qualquer pessoa que não se conforme com essa sociedade que vivemos.
Por acreditar no socialismo mundial, estamos construindo uma série de acampamentos de formação marxista no mundo inteiro, do Brasil à Europa.  Venha construir o PSTU, a LIT. A Jornadas de Junho ocorridas no Brasil, a depender de nós, se tornarão a Jornada Mundial de Luta de todos os trabalhadores e jovens inconformados, de todas as crenças religiosas e nações, por um mundo socialista.


2 comentários:

  1. Acreditar em utopia, em pleno século XXI, socialismo mundial? Vocês devem estar brincando, zombando da ignorância dos menos favorecidos..Sigam o exemplo de humildade do papa Francisco, que abriu os braços, num abraço fraterno, a todos os brasileiros, pregando o amor, a fraternidade em nossas familias.., sem preconceitos..

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  2. Ana Maria, o PSTU não tem preconceitos. Defendemos a liberdade religiosa, mas denunciamos as posturas de igrejas que, ao contrário do que pregam, disseminam o ódio a diversas pessoas, como a homossexuais, por exemplo. O socialismo não é uma utopia, mas um modo de organização da sociedade oposto ao sistema capitalista que gera miséria, fome e desigualdade social em todo o planeta. A grande maioria dos trabalhadores está insatisfeita com as injustiças sociais do capitalismo e quer um mundo diferente. A diferença é que nós temos uma proposta de o quê colocar no lugar, que tampouco inventamos agora, mas foi fruto de elaborações, lutas e experiências históricas de muitos anos.

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