20 de setembro de 2013

Jornalistas do Diário do Pará entram em greve, em Belém.

Greve, que é considerada já histórica, é contra os veículos de comunicação de Jader Barbalho.


Há muito tempo acostumou-se a dizer e a escrever que a mídia, os grandes veículos de comunicação no Brasil, estão à serviço do capital, da burguesia, com matérias compradas, deturpadas, que visam única e objetivamente criminalizar os movimentos sociais e a classe trabalhadora, sem de fato mostrar suas pautas e reivindicações. Isso tudo é a mais pura verdade, pois sabe-se que as empresas de comunicação no país são controladas em sua grande parte por políticos e empresários que usam estes veículos para defenderem suas posições e interesses. O que não se sabe e nem se escreve, é que por trás disso tudo também existe uma categoria explorada dentro das grandes redações de jornais no país que trabalha sem receber horas extras, com dupla jornada, sem piso salarial e até expondo suas vidas em risco. Essa categoria é a dos jornalistas. E aqui em Belém do Pará, uma parte dessa categoria está há três semanas em paralisação. 

Os jornalistas do Diário do Pará e do Diário do Pará On-Line (DOL), veículos pertencentes ao grupo do senador Jader Barbalho (PMDB), pararam a maior redação do Pará em uma greve que já é considerada histórica.Repórteres, repórteres fotográficas/os, editoras/es, diagramadores, revisoras/es, e paginadoras/es do jornal Diário do Pará e repórteres e coordenadoras/es do Portal Diário Online (DOL) decidiram parar suas atividades por tempo indeterminado. A greve começou ao meio dia desta sexta-feira, 20 de setembro em frente aos portões da emissora, que fica em uma das avenidas centrais da cidade.

Desde abril, o Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor-PA) tenta diálogo, sem sucesso, com a direção do Grupo Rede Brasil Amazônia de Comunicação (RBA), afiliada da Band, da qual os trabalhadores fazem parte. Mesmo com atos públicos, protestos e a visível indignação de seus funcionários, a empresa recusa qualquer negociação.

Posicionado entre os maiores veículos de comunicação do Norte e Nordeste, o Grupo RBA paga um dos salários mais baixos da categoria no Pará. Repórteres e repórteres fotográficos ganham apenas R$ 1.000 bruto, por exemplo. Com descontos, o salário pode chegar a cerca de míseros R$ 800. Não há sequer um Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR). Há jornalistas que estão há quatro anos trabalhando na empresa recebendo reajustes insignificantes, com salários iguais aos que estão sendo pagos a recém-contratados, denunciam os trabalhadores.

Este ano, o Diário do Pará ganhou cinco prêmios no “The International News media Marketing Association (INMA) Awards 2013″. No entanto, o jornal “mais premiado do mundo”, como o departamento de marketing insiste em frisar, não oferece nem mesmo água potável aos funcionários. “Estamos aqui para denunciar que essas conquistas se devem ao suor de homens e mulheres que sequer ganham o bastante para se alimentar com decência todos os dias do mês. Tampouco deixaremos que a ameaça de demissão e o assédio moral voltem a calar qualquer um de nós.” – afirma o grupo, em carta aberta.

O jornalista Leonardo Fernandes, do caderno de cultura do Diário do Pará, que está à frente do movimento, foi demitido, sem justa causa e sem motivo aparente, como uma forma de intimidação e de evitar que o movimento ganhasse força. A produtora da TV RBA Cristiane Paiva, foi demitida após reproduzir no Facebook uma cópia de seu contracheque.

O Grupo RBA é controlado pela família Barbalho, que faz parte do oligopólio que domina os meios de comunicação no país. A comissão de trabalhadores, que integra o movimento “Jornalista Vale Mais”, encabeçado pelo Sinjor-Pará, está desafiando empresários e administradores que, além da pressão psicológica, exercem enorme influência política nos mais diversos setores. Leonardo Fernandes, sobre sua demissão, diz: “Depois de decidirmos em uma reunião, a decisão de grevar, no inicio da semana fui chamado no RH da empresa e a menina falou “sabemos que você não está satisfeito com a empresa, por isso resolvemos te demitir”, contou Leonardo que já entrou com o processo trabalhista contra a RBA. E ele, indagado sobre a surpresa da categoria de jornalistas entrarem em uma greve, desabafa: “Não há glamour na profissão, mas sim, muito sacrifício”, diz.

Uma comissão de jornalistas foi recebida no fim da manhã por Francisco Melo, diretor financeiro do jornal, que se comprometeu em levar as reivindicações da categoria até Jader Filho, um dos donos do jornal. A comissão apresentou algumas propostas básicas para a negociação: 1- Estabelecer um Piso Salarial; 2- A readmissão de Leonardo Fernandes; 3-Estabilidade de 1 ano para todos os trabalhadores e trabalhadoras grevistas.

Sobre o Movimento #JornalistaValeMais, o repórter do DOL, Jones Santos, afirma: “O movimento é primordialmente por dignidade e tem um caráter de desmistificar a imagem do jornalista. Somos trabalhadores, explorados  pelo capital como qualquer outro” - finaliza.


*Wellingta Macêdo e Thiago Cassiano com informações do blog Passa Palavra.


Confira também:

Entrevista com Leonardo Fernandes, jornalista demitido do Diário do Pará

Vereador Cleber denúncia irregularidades no jornal dos Barbalhos

Solidariedade aos jornalistas de Belém: Trabalhador Vale Mais

Um comentário:

  1. Camaradas, muito bom saber da luta de vocês!
    Muito boa a divulgação!

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